A placa

Não estava agüentando mais aquele barulho de automóveis que passavam na sua rua pela manhã acordando-o de uma noite mal dormida. Tinha que haver um jeito de acabar com isso. Mas como? Sua rua se tornou muito movimentada depois das mudanças que a Prefeitura fizera na direção que os carros poderiam trafegar nas ruas do seu bairro. A isto chamamos de mão e contramão. Muito estranho essa história de mãos, mas não é este o assunto dessa crônica, vamos voltar para o barulho dos carros acordando o nosso amigo pela manhã, e deveria ter mais alguém com o sono leve naquela rua.

Para resolver o problema, tentou marcar uma reunião com o pessoal da rua. Foi de casa em casa convidando os moradores. Não apareceu ninguém. De duas uma: ou ninguém tinha sono leve naquela rua ou achavam que não ia adiantar fazerem qualquer ação contra o estabelecido pela Prefeitura. Bem, estava sozinho naquela luta. Mas não deixaria de lutar pelo direito de dormir umas horinhas a mais pela manhã, pois, como já falei ou melhor, escrevi acima , nosso amigo não dormia bem à noite e só pegava no sono justamente quando todos estão acordando.

Resolveu ir no departamento de trânsito da Prefeitura fazer sua reclamação. Chegando lá, foi até o balcão e ficou esperando alguém atendê-lo. Passado uns trinta minutos , nenhum funcionário tinha ainda se resignado a levantar de sua mesa para atende-lo e não viam motivo para isto, pois, ali era o departamento de trânsito da Prefeitura e não imaginavam que alguém fosse até eles para requisitar alguma coisa já que tudo era definido por um corpo de engenheiro formados nas melhores Universidades do país e alguns tinham até Doutorado feito em países da Europa.

Finalmente uma funcionária ( as mulheres são mais sensíveis a um olhar pedindo ajuda) se levantou e chegando até o balcão lhe perguntou:

─ Pois não, o que o senhor deseja?

─ Minha senhora quem é o responsável pelas mãos e contramãos das ruas do bairro Colibri Azul?

─ Meu senhor, sinceramente eu não sei; deve ser algum engenheiro dos grandes, pois, pra ser responsável por tantas mãos e contramãos tem que ser dos grandes. Qual é o problema?

─ O problema é que só tenho sono pela manhã e como o seu grande engenheiro mudou a mão da rua principal do bairro para mão única, quase todos os carros resolveram passar pela minha rua bem cedinho e não consigo mais dormir. A minha rua tem duas mãos e eu queria que o seu grande engenheiro cortasse uma, assim passariam bem menos carros. O ideal é não ter mão nenhuma, mas eu nunca vi uma rua sem mãos; melhor pra mim que fosse assim.

─ Seu moço, pode esquecer esse assunto, nunca vi alguém conseguir mudar a mão de uma rua nesse departamento. Acho melhor o senhor mudar de casa ou melhor mudar de cidade , pois, não vai conseguir dormir pela manhã em lugar nenhum. Essa cidade virou um inferno só.

─ Então a senhora acha que nem resolve eu preencher uma reclamação?

─ Resolve não, com certeza.

Nosso amigo então agradeceu a boa vontade de funcionária e foi embora pensando em uma outra solução,pois, não iria desistir facilmente dessa luta e quanto a sugestão de mudar de casa, nem cogitou tal saída; já mudara de casa umas seis vezes e jurou nunca mais fazer isso. Mudava de casa sempre que a rua ficava movimentada e viu que essa solução não resolvia o problema, pois, com o tempo a rua ia ganhando movimento

até ficar insuportável para ele; pensaria em uma outra solução.

Chegou em casa e começou a pensar no problema. Não conseguiu encontrar nenhuma idéia para solucionar o caso. Resolveu então, ir na padaria comprar pão e leite e quando passou pela esquina avistou uma placa de contramão que a Prefeitura havia colocado para orientar o trânsito local. Logo uma idéia lhe veio a mente: se conseguisse uma placa ou melhor duas placas como aquela e colocasse uma em cada esquina da sua rua seu problema estaria resolvido. Avisaria os moradores do seu quarteirão que só eles poderiam trafegar pela rua e eles sem dúvidas ficariam satisfeito com o sossego que haveria. Pois bem, para encurtar a história, nosso amigo fez tudo como havia pensado . Instalou as placas de madrugada que eram réplicas perfeitas das placas oficiais. Fez um bilhete datilografado é claro , avisando os moradores sobre a “mudança”. Foi então que se lembrou do caminhão de lixo e do gás. Como fazer? Vocês tem alguma sugestão, senhores leitores?

Nosso amigo resolveu o problema instalando uma pequena placa abaixo das outras dizendo o seguinte: “ Permitido somente caminhões de lixo e do gás.” Perfeito.

E como ninguém tinha coragem de ir até a Prefeitura para reclamar da tal mudança, sabendo que não ia dar em nada mesmo, até hoje o quarteirão do nosso amigo insone, continua bem sossegado. Até quando? Não sei.