SOBRE A ARTE DE FALAR SOZINHO

Quem nunca falou sozinho em algum momento e por algum motivo?

O que pode parecer coisa de doido é na verdade um hábito que provavelmente 100% da população mundial já fez ou ainda faz:

"Apesar de parecer estranho quando alguém é visto na rua conversando sozinho, para a neuropsicóloga e psicopedagoga Adriana Fóz, o hábito ajuda a desenvolver a imaginação, a linguagem, o raciocínio e a m deemória. 'A fala faz com que a gente extravase também muito das nossas emoções, é algo que vem para o equilíbrio da mente', explicou. (Fonte: cultura.uol.com.br).

Segundo especialistas, o hábito torna-se um problema quando a pessoa não se dá conta que há outras pessoas presentes. É o caso de pessoas que tem alguma patologia ou abusam de algum tipo de droga, por exemplo.

Nesse caso a fala autodirigida pode ser sinal de patologias psicóticas (aquelas nas quais há um rompimento com a realidade), da presença de alguns transtornos de personalidade ou do abuso de substâncias químicas.

Eu conheci uma senhora em Blumenau que era vista na rua num diálogo ferrenho com pessoas que certamente só ela via. Não consta que fosse usuária de drogas, pois a mesma não tinha um comportamento agressivo ou algo assim. Mas o "grupo" era grande e não raras vezes ela entrava em discussões acaloradas, pois certamente alguma das "pessoas" com quem ela conversava discordavam do seu ponto de vista. Não sei até que ponto aqueles sintomas faziam mal à referida senhora, mas no trato com as pessoas "reais", era de paz.

Eu tenho o hábito de falar sozinho. Mas só quando estou sozinho. Esse hábito era mais acentuado, evidentemente, quando não tinha ninguém morando comigo. Eu travava diálogos acalorados comigo mesmo e minhas únicas testemunhas eram os gatos de estimação, que talvez me considerassem maluco. Na infância, tive vários amigos imaginários e a mata próxima à nossa casa no sitio era a cidade onde cada árvore era um estabelecimento comercial e onde, na minha fértil imaginação de piá, eu era até vereador (mal sabia eu dos encargos e incômodos que esse cargo traz...).

Não sei se meus pais ou irmãos me consideravam doido. Talvez nos dias de hoje, onde tudo precisa ser politicamente correto e todo mundo tem um diagnóstico pronto, eu seria considerado "autista", quando na verdade sempre me considerei um "artista", apenas sem a coragem ou o talento para representar diante de uma plateia.

Na maioria dos casos, quando falamos sozinhos, conseguimos nos concentrar melhor, memorizar certas coisas e tomar decisões a respeito de algum assunto que exija atenção. Ler e repetir o tema em voz alta também é uma maneira de memorizar conteúdos de estudo. Na maioria dos casos é, portanto, um hábito salutar.

Por isso, se você se flagrou em algum momento falando sozinho (a), saiba que não é um caso raro e também não necessita de internação.

E talvez esse texto provoque em você algum comentário em voz alta, de preferência se não tiver ninguém por perto. Seja para se identificar com o assunto ou para me chamar de doido