o vendedor de cebolilnhas
Como todo domingo, ele acordou tarde, tomou o seu café e depois de arrumar as gavetas do seu armário saiu para comprar um frango assado para o almoço. No caminho passou em uma banca de revistas e leu as manchetes dos jornais; as mesmas notícias de sempre: corrupção, greve, acidentes.
Quando voltava para casa um vendedor de verduras na esquina lhe ofereceu delicadamente o seu produto:
— Compra moço cebolinha para comer com o frango ; é uma delícia, só cinqüenta centavos cada!
Ele agradeceu educadamente:
— Não , obrigado — continuando o seu caminho.
O domingo transcorreu sem qualquer novidade: almoçou com a família , descansou um pouco, viu o jogo de futebol do seu time pela televisão e depois terminou de ler um livro que começara a mais de três meses.
Às dez hora da noite quando se preparava para jantar sentado à mesa escutou dentro de si uma voz:
“Compra moço cebolinha para comer com o frango; é uma delícia, só cinqüenta centavos cada!”
E a sua própria voz dizendo:
“ Não, obrigado.”
Sentiu então vergonha da sua insensibilidade disfarçada de delicadeza. Como pode ser tão frio diante de um apelo tão humilde? Só encontrou uma explicação: fora treinado para não levar em consideração as necessidades dos outros e somente as suas, frente a qualquer desconhecido. Mas por que então a voz sobrevivera dentro dele e lhe oferecia outra oportunidade de responder a seu apelo?
Na verdade desde aquele momento em que passou pelo vendedor e deu aquela resposta treinada até o momento em que se preparava para jantar alguma coisa aconteceu dentro dele sem que ele percebesse.
Intuitivamente sentiu que uma luta se travara dentro de si e que a voz que ouvira novamente anunciava a vitória de sua humanidade sobre sua insensibilidade treinada por longos anos.
Sentiu raiva de si por ter se deixado enganar por tanto tempo. E a voz do vendedor se calou para sempre. Passou a comprar cebolinhas e outras coisas de pequenos vendedores ambulante.