Minha bicicleta

Tu vieste para ser a parceria de viagens longínquas durante essa crise que o mundo passa. Era só um verão e o tempo foi passando e a gente foi se apegando se contemplado. Você passou de útil, a necessária. Quantas esquinas cruzamos juntos. Quantas subidas fomos sendo levados?

Tropeços, quedas, recomeços. Apareceram muitas histórias entre nossas longas jornadas de noites e de dias.

Prefiro ser assim mesmo. Te deixar do jeito que está. Fazer uma manutenção aqui, outra acolá. Mas se eu te enfeitar muito, te deixar muito bonita, vão querer te levar. É assim que funciona. a cobiça humana. Eu poderia te trocar por outra bicicleta mais moderna, por outra realidade, mas prefiro ficar com você mesmo. Ficarmos juntos até os últimos momentos. Sabedores que as horas passam, o processo de envelhecimento é irreversível. Todos estaremos um dia no fim. Até tu uma simples bicicleta tem um prazo de validade e nesses 1 ano e seis meses juntos fomos além da capacidade de trabalho. Fomos ao máximo na atividade física. Muitas buzinas de carro, ao redor, muitas pistas disformes e esburacadas. Muitos motociclistas, motoristas e até ciclistas buscando confrontos agressões. O trânsito é assim mesmo. Exige cautela, exige paciência, capacidade de superação dos obstáculos, das vias e ciclovias maltratadas.

Poucos nos olham. E quando olham julgam. Me pedem para te trocar por outra mais nova, mais atraente. Justamente por isso, estou contigo. Não dou asas a cobras. Gosto do simples e assim vamos caminhando e pedalando pelas ruas de Fortaleza city.