SOBRE VELHOS HÁBITOS

Quando as primeiras notícias sobre o Corona Vírus surgiram na mídia, ninguém esperava que a situação chegasse ao nível em que se encontra hoje. Como de não fosse suficiente, o ressurgimento de pragas como nuvens de gafanhotos e surtos de peste bubônica nos fazem refletir se não seria tudo isso uma maneira de Deus regenerar o mundo e ensinar aos seres humanos o quanto somos culpados pela destruição do nosso planeta.

Hoje, vivemos uma realidade antecipada na própria Bíblia e em obras da literatura universal e filmes pós apocalípticos: pessoas isoladas, regras de distanciamento, ausência de abraços sinceros e até de corteses apertos de mão. A médio prazo, surgirão os efeitos devastadores na economia mundial. Sendo que já é realidade o aumento do desemprego. E, no Brasil, o flagrante despreparo por parte dos governos em oferecer soluções para amparar a ampla maioria da população menos favorecida.

Exageros à parte, as pragas retratadas no livro do Êxodo parecem bater à nossa porta, forçando o homem a uma tomada de consciência para o risco da extinção da própria raça, visto que até agora não se tem notícia de que o temido vírus atinja os animais. Livros como A Peste, de Albert Camus e Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, anteciparam de certa forma a situação caótica em vivemos. Quiçá não façamos como os cegos do livro de Saramago, reduzidos aos instintos mais primitivos do ser humano, com o mais forte subjugando o mais fraco das formas mais vis. Em paralelo a isso, vimos o quanto as pessoas perdem tempo nas redes sociais com coisas futeis, partilhando piadas infames ou usando as mesmas para criticar ou defender esse ou aquele governo. Quando na verdade seriam muito mais produtivas se usassem as redes sociais para compartilhar mensagens de fé ou campanhas de arrecadação de alimentos.

Em meio a tantas notícias ruins, surge um raro arco íris em meio a tantas tempestades. Notícia vinculada recentemente no site domtotal.com nos dá conta de como pequenas livrarias tem conseguido oferecer alternativas de comprar livros, tais como vendas através do whatsapp, conteúdos em redes sociais e entregas em domicílio. A mesma notícia relata que houve um aumento nas vendas não só das obras literárias citadas anteriormente, mas também de temas voltados ao auto conhecimento e obras de maior fôlego, como Crime e Castigo, de Dostoievski e A Montanha Mágica, de Thomas Mann.

O que se espera é que a Medicina encontre uma cura para o vírus. Que a humanidade sobreviva a mais esse contratempo. E que, enquanto o isolamento persistir, se utilize o tempo que somos obrigados a permanecer juntos não só para ficarmos grudados no celular feito zumbis, mas também para resgatar hábitos salutares como conversar ou ler um livro para os filhos.

*Texto escrito ano passado e publicado em dois jornais de minha cidade, um comercial e outro comunitário.