A falsidade ideológica não descoberta
A parte mais espinhosa para o primeiro sargento De Leon, na carreira militar, foi a conclusão do Ensino Médio (à época chamado de segundo grau). Chegou a pensar que nunca sairia de cabo, por conta dos estudos. As viagens, tão rotineiras por conta do embarque obrigatório, e sua limitação intelectual nas matérias lógico – matemáticas, aumentavam a descrença em sair de almirantado do mescla e chegar a terceiro sargento, por isso, desde muito tempo antes contratou um professor de redação.
O profissional recomendou ao De Leon que comprasse um caderno de caligrafia, pois a letra deixava muito a deseja. Era quase ilegível e, para não se perder tempo, mandou o cabo fazer a letra de forma, mais adequada à urgência da situação. Daí recorreu a mim, que era safo em Português e História e esperava, agindo, ano a ano, que esperava muito tranquilo pelo curso de Barbearia. Enquanto não chegava a mensagem de convocação, eu ia estudando para o vestibular das três universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro: A UERJ, a UFF e a UFRJ.
- Campanha! Ô campanha, você topa me ajudar? Pago bem. Tô precisando de uma pessoa safa em Língua Portuguesa e História, a fim de fazer a prova de supletivo do Estado.
Topei a parada (o que não se faz por dinheiro, quando se é jovem!), mas, de coração, não sabia que o que fazia era crime, previsto no Código Penal: falsidade ideológica. Tudo ocorreu com tranquilidade e conforme ele (o De Leon) orientou. Fiz a avaliação sem muito esforço e entreguei logo que cruzou o tempo mínimo de prova e vim embora.
Ninguém percebeu nada, à exceção dos que ele avisou previamente. Os fiscais não deram pela combinação entre mim e De Leon. Contei com Jesus e Nossa Senhora Do Carmo, a fim de nos proteger de alguma coisa que achassem de errado e se surpreendessem.
Ao chegar à pensão, topei com o De Leon bebendo uma cerveja com um visitante.
- Olá, sargento! Deu tudo certo! E, animadamente, contei o que se passara comigo, da hora em que entrei na sala, até a entrega do cartão – resposta, garantindo a promoção ao Estado – Menor.