Eu e a bola
Não fui um craque, todavia amei o meu estilo de jogar futebol e tive o prazer de jogar ao lado de tantos cracaços que percorreram o mundo a levantar troféus e a colar medalhas no peito. Esse último fim de semana tive o privilégio de dividir um tempo de jogo com um dos melhores que comigo atuou, Jairo Bigu, e pude proteger e dar uma tapa no maior dos meus objetos preferidos, a bola de futebol. O dia foi tão especial que encontrei amigos boleiros que no passado me ensinaram um pouco de suas magias como Donato, o meu companheiro de zaga do União dos anos 70, Zé Carlinhos, o meu ídolo eterno que na minha infância fazia malabarismo na quadra da Associação do Bairro de Guadalupe, e aquele de apelido de um anão que distribuia canetas no Campo do Canal sem saber que um menino sonhador dava socos invisíveis no ar pelos seus feitos. São personagens importantes da minha vida que tive a felicidade de dividir o gramado como tantos que não caberia nesse texto.
Alguém que herdou o carinho de seu pai que massageou minhas pernas no vestiário antes das partidas do São José, clube tricampeão carioca considerado da segunda divisão antes da fusão do meu Estado da Guanabara, me convidou para participar do elenco do Mimoso, time de boleiros veterano e vitorioso da maioria das taças disputadas do lugar considerado "O celeiro de craques".
Fiquei lisonjeado e aceitei o convite e ao fim da tarde quando deliciava meus momentos com Maria, fui presenteado com telefonema do líder de outro grupo de pelada do mesmo local a me perguntar:
- Como se escreve o seu nome? É com "i" ou "d" mudo?
- É para que eu estampe na sua camisa.
Eu não estava sendo disputado, era uma definição de quão é nobre o coração da galera do meu bairro que sempre produziu homens de bem. Só não sei se vou conseguir mais uma vez poder pisar na grama, pois sinto dores nas pernas que tanto adestraram a pelota que sempre se renova a criar o mais triste dos paradoxos da minha vida.