APODO

Geraldinho, Adal, Nô, Betinho e Fridão. Caduco, Zé e Pirula. Ratão, Paulinho e Luizinho. Em um exame rápido (menos de 30 segundos), recuperei no fio da memória 11 nomes com quem joguei na adolescência e juventude. Se procurar por mais um minuto, com certeza monto outro. Quer ver? Tigueis, Mulambo, Boi, Brahma, Luizão, Mechinha, Badeco, Delei, Samuca, Maninho e Juninho. O detalhe que une essa seleção de minhas afetividades? Os apelidos.

Lembro que durante alguns anos, registrei os nomes incomuns de vários times de futebol que conheci em lugares diversos. Ao mesmo tempo guardava também as alcunhas, nomes de gente que conheci, convivi, ou só ouvi ou li de passagem. Seja como for, registrei mais de 200 times de futebol. Com uma escalação de 12 nomes (o time completo mais o técnico), cheguei ao hiperbólico montante de 2400 nomes não civis. Ou mais.

Apelidos, assim como os mitos populares, a culinária, a música e as brincadeiras infantis, são dados que explicam um lugar, um tempo, um país. Através deles, conseguimos entender nuances que não são explicáveis pela formalidade científica. Os “inho” que conheci geralmente eram mais baixos que a média. Mas teve um, por exemplo, o Geraldinho, que até era razoavelmente alto, porém manco. Durante muito tempo foi goleiro (e dos bons) no Ébanus Futebol e Samba, AE Brasil e EC Jd. São Pedro. Nesse caso, desconfio que este “inho” era um eufemismo sobre a sua condição física, não exatamente de estatura. Outro exemplo: Brahma era uma zagueirão parrudo, de não perder a jogada de maneira alguma, seja parando a bola o ou adversário. Sua profissão era motorista. Adivinha qual produto ele entregava nos bares da região? Um último exemplo: pago um doce para quem adivinhar o porte físico de um zagueiro que tenha o apelido de Boi.

Faço todas essas elucubrações porque o futebol profissional (o da várzea parece que ainda não!), impôs a troca sistemática de alcunhas por nomes mais engraçados que os próprios antigos agnomes. Tiraram os “inho” e entraram os “son”: Emerson, Everson, Richarlisson, Daivison, Keirrison… Aos poucos, saem de cena as citações físicas (Alemão, Nego, Perninha, Vareta), por nomes duplos. O caso recente mais emblemático aconteceu há duas semanas quando o jovem centroavante do Palmeiras deixou de ser Papagaio para ser mais um Rafael Elias.

Assim como os estádios estão se tornando arenas e os clubes tradicionais passaram a ser menores que seus patrocinadores nas camisetas, os nomes compostos infestaram, tomam conta das escalações. E os locutores – acostumados a Pelé, Zico, Falcão, Garrincha e Chulapa – que atualizem formas e dicções para transmitir os jogos com a mesma rapidez embaralhada e o dobro de nomes.

Em, tempo: tentei fazer uma lista de todos os apelidos que já tive: Gordinho, Toupeira, Banha, Pança, Capitão Gay, Boa Francineide, Cabelo, Cabeludo. Teve mais, mas se perderam no deserto das lembranças.