A decisão

Decisão

Não soube definir se não dormira nada ou se acordara mais cedo que de costume.

Abriu os olhos e passou ali um longo tempo olhando para o teto e ouvindo os sons à sua volta... Tudo quieto!

Percebeu que estava sozinha.

Então tomou a decisão. Não iria mais adiar...

Agora que já havia programado tudo não iria retroceder. Seria corajosa. Afinal, já estava mais do que na hora de fazer alguma coisa, sair daquela rotina deprimente em que havia mergulhado desde... Nem se lembrava mais quando. Parecia uma eternidade.

Estremeceu com as visões que lha assomaram à memória!

Pulou da cama totalmente desperta. Sentidos alertas...

Correu para o espelho como se para tentar encontrar a pessoa que fora um dia, e imaginou ouvi-la dizendo-lhe:

__ Está esperando o quê? Mexa-se! Crie coragem!

E foi o que fez.

Abriu o guarda-roupa, pegou a sacola maior que havia no “maleiro” e pôs em cima do criado-mudo.

Precisava mudar. E isso era uma coisa que faria por si mesma. Estava cansada de esperar que as coisas se ajeitassem sozinhas...

Voltou ao guarda-roupa.

Dos cabides e gavetas tirou suas melhores peças. Não levaria nada muito usado. A sacola não era grande, então tinha que priorizar certos itens e foi o que fez.

Colocou também um jogo de toalhas e tentou lembrar-se de mais alguma coisa...

Enquanto isso pegou uma valise combinando com a sacola para os objetos pessoais e produtos de uso imediato. Colocou ali a escova e o creme dental, seu xampu e condicionador, o desodorante antitranspirante e o sabonete líquido que usava. Viu que estava pela metade, mas levaria assim mesmo...

Foi arrumar a bolsa tiracolo. Não estava encontrando os brincos que mais gostava...

Olhou os sapatos, as sandálias e os chinelos... Teria que escolher só um par de cada. Que dúvida cruel! Mas tinha que decidir. Afinal, fazer certos sacrifícios seria necessário.

Foi ao varal e recolheu sua melhor roupa de dormir em dias frios, havia lavado no dia anterior. Pôs tudo dentro da sacola e então fechou o zíper. Deu uma nova conferida na bolsa de mão para ver se estava tudo certo: batom, perfume, anti-hipertensivo, documentos...

Mas cadê seu passaporte? Sumira!

Resolveu deixar pra lá. Não iria sair do país mesmo.

Dinheiro! Não podia esquecer o dinheiro e os cartões de crédito...

Estavam em outra bolsa. Mas qual?

Encontrou!

Recolheu tudo. Até as moedas. Guardou no bolso do fundo falso do tiracolo. (Ninguém sabe para que esse fundo falso numa sacola. Mesmo porque quando um ladrão aparece para roubar leva a sacola e não só o que está no bolso.)

Mas, enfim. Estava tudo pronto!

Não faltava mais nada.

Daria adeus aos dias de baixa-estima e autocomiseração.

Era necessário!

Tomou um banho e completou sua toalete com uma maquiagem leve e uma loção pós-banho da marca que adorava. Macia e cheirosa...

Estava pronta para sair.

Então pegou o celular e ligou para a clínica:

_ Alô? Aqui é Rosa Ana! Poderia me dizer para qual horário está agendado o meu procedimento de harmonização facial?

Não queria chegar atrasada...

Adriribeiro/@adri.poesias