Os humanos na equação climática

“A mudança climática não é um problema do futuro, está aqui e agora e afeta todas as regiões do mundo”. A frase é do professor Friederike Otto, da Universidade de Oxford. O professor é um dos pesquisadores do IPCC, sigla do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

O último relatório sobre as mudanças climáticas divulgado na semana passada, não altera significativamente os cenários já conhecidos. Com a rápida intensificação das mudanças, o fato novo é que os pesquisadores estão corrigindo o tempo. O distante 2100 agora já pode ser 2050 e até mesmo 2030. Estamos a menos de uma década dele.

A novidade no relatório é a ênfase dada aos humanos. É fato que pelas mãos humanas todo o planeta foi modificado. Somos uma variável que já não pode ser descartada da equação climática. As simulações das mudanças causadas apenas por fatores naturais comparadas com os humanos colocados na equação são assustadoras.

Podemos pegar o aumento da temperatura do planeta como exemplo. Desde a era pré-industrial o aumento na temperatura foi de 1,09ºC. Apenas 0,02ºC foram provocados por causas naturais. Uma ficção no final do século 20 e no início do 21, o temido 1,5ºC+ pode ser realidade em 2030. Na média já vivemos num planeta 1,5ºC mais quente.

Fenômenos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes e comuns. Isto não significa que eles entrarão em nosso cotidiano amanhã ou na próxima semana. Sem a influência dos humanos um fenômeno extremo que ocorria a cada década hoje tem chance de ocorrer 2,8 vezes mais. Com 1,5ºC mais quente, as chances aumentam para 4,1 vezes, com 2ºC, 5,6 vezes, com 4ºC, 9,1 vezes.

Com relação ao nível dos mares já ultrapassamos o ponto que permitia voltar. Eles continuarão a subir. Mesmo que se consiga manter a temperatura do planeta 1,5ºC mais quente, os mares subirão de 2 a 3 metros. As consequências para as regiões litorâneas do planeta serão trágicas. A biodiversidade também sofrerá danos.

O relatório está na mesa da COP26. A conferência climática que seria realizada em Glasgow na Escócia, em novembro deste ano. Se os governantes não agirem de maneira satisfatória, serão levados aos tribunais por ativistas ambientais. Muitas causas têm sido ganhas nos últimos anos.

Quase simultâneo com o relatório do IPCC, num estudo também sobre mudanças climáticas, a especialista em sustentabilidade Gaya Herrington, prevê o colapso da civilização humana antes da metade deste século. Uma consequência do fim do crescimento econômico global baseado em energia fóssil. Sem uma economia sustentável o capitalismo desmoronará. Com ele a vida humana no planeta.