O jardim
Nunca vira um jardim tão lindo assim. As flores eram perfeitas. Todas as rosas tinham o mesmo tamanho. As margaridas também. A grama ,incrivelmente nivelada, mais parecia um tapete persa. As cores mantinham um padrão de estabilidade espantoso e estavam sempre viçosas e com um ar de frescura maravilhoso. Havia rosas de cores antes jamais vistas.
O mais espantoso era que não se lembrava de ter visto os jardineiros trabalhando na criação do jardim. E passava todos os dias por essa rua quando ia para o trabalho. Poderia ser distração sua, pois era bastante distraído. Mas não importava, o importante era que o jardim era muito bonito e podia apreciá-lo todas as manhãs, quando ia para o trabalho.
Um dia um fato chamou-lhe a atenção: procurara em vão por alguma borboleta ou um colibri. Não vira também nenhuma abelha recolhendo pólen para fabricar mel. Ficou intrigado com o fato.
Um outro dia, como não estava atrasado para chegar ao trabalho, resolveu observar mais atentamente o jardim e percebeu que não haviam folhas caídas pelo chão como há em todos os jardins. Também não haviam pétalas de rosas pelo chão. Foi então que se lembrou que nunca sentira qualquer perfume vindo daquele jardim. Estranho. Mas poderia ser distração sua, , ele era mesmo bastante distraído.
Os dias se passavam e o jardim continuava sempre o mesmo. Perfeito! As flores intactas. E como sempre sem nenhuma borboleta ou colibri. Abelhas também não.
Certa vez , quando passava pelo jardim, resolveu roubar uma margarida para dar de presente a sua mulher, pois era o dia do aniversário dela. Preferia margaridas às rosas, pois as achava mais simples e emotivas . E sua mulher era muito simples e emotiva.
Olhou para um lado, para o outro , para se certificar que não vinha ninguém e pulou o muro baixo que protegia o jardim. Começou a escolher a margarida que iria roubar, pois queria uma bem especial. Mas notou que todas eram iguais. Extremamente iguais.
Foi quando tomou um enorme susto: assim que pegou no caule de uma margarida sentiu uma rigidez meio estúpida e fria : como se tivesse pegando em algo morto. Foi então que descobriu que o jardim era de plástico. Ficou estupefato e se sentiu enganado.
Então foi para casa. Escreveu um cartaz com os seguintes dizeres: ”Amigos esse jardim maravilhoso, perfeito, onde as flores nunca secam e as folhas nunca caem ; onde não há colibris, borboletas, abelhas fabricando mel , é de plástico.”
No outro dia , bem cedo , colou o cartaz no muro para que todos lessem.