O futuro em suas mãos
Hipnotizada pelo vai e vem do ferro de passar roupa, guiado por suas hábeis mãos, perdia-se nos próprios pensamentos.
Olhou a pilha de roupas e constatou que gostava de cozinhar, lavar a casa, a louça, a roupa, o quintal… Mas, definitivamente, passar roupa não era o seu forte.
Não fosse a impaciência em juntá-las, com certeza arrumaria uma pessoa para fazer esse serviço.
Pensando ainda nas próprias mãos, olhou-as por um instante e constatou o quão gastas estavam. O uso constante de produtos de limpeza era o grande vilão desse horrível resultado. Suas digitais estavam desaparecendo. Dia desses precisou fazer o reconhecimento delas no leitor da guarita do prédio em que seu filho mora, e não conseguiu. Acabou por receber um chaveiro com um número de identificação. Quase teve um chilique! Riu sozinha da própria situação.
Isso a fez lembrar-se das ciganas…
Será que a falta de digitais também interfere na leitura das mãos? Talvez seja esse o motivo delas nunca terem acertado as predições feitas em relação à sua vida – risos...
Ciganas... Misteriosas, enigmáticas... Sempre teve medo, mas sentia-se atraída por elas. Quando pequena, sua mãe dizia com muita frequência:
– Cuidado com os ciganos! Eles roubam crianças, levam para bem longe dos pais e ensinam a roubar ou, então, as vendem como escravos.
Quando via uma tropa de mulas pastando nos terrenos baldios próximos à sua casa, ficava logo em alerta, pois, com certeza, os ciganos estavam por perto.
Passavam nas casas oferecendo tachos de bronze que trocavam por “ouro velho”. Sempre vestidos com roupas extravagantes e ornados de muitas joias que, segundo as más línguas, eram roubadas.
Tinha em mente alguns casos pitorescos vividos com ciganas.
Um deles: tempos atrás, logo que veio morar por essas bandas, recebeu a visita inesperada de uma cigana velha.
O portão escancarado e a porta da sala aberta, devido ao calor escaldante de uma tarde de domingo, facilitou o livre acesso da mulher até sua sala de visitas.
Atendendo ao apelo desesperado do filho mais velho, que à época tinha apenas oito anos, veio até a porta que divisava com a sala. Qual não foi a sua desagradável surpresa ao ver a cigana, muito bem acomodada, numa das poltronas.
Assustada perguntou o que ela desejava. Imediatamente pediu pó de café, o que de pronto ela correu para atender, lógico que com “um olho no peixe e outro no gato”.
Mas, quando à sala retornou, a cigana, em agradecimento, insistiu em adivinhar o seu futuro e, por mais que se negasse, ela puxou sua mão e começou a falar tolices. Agoniada, foi logo despachando-a. Isso porque a cigana ainda insistia em predizer um casamento para breve… lógico que, com base na ausência da aliança em sua mão, mania de tirá-la sempre que lavava a louça.
Outro caso foi com uma amiga. A história se passou em sua infância. O Dia das Mães estava próximo e ela queria dar um presente para sua genitora. Como as dificuldades financeiras na época eram grandes, aproveitou a ausência da mãe e trocou a irmã caçula por um tacho de bronze.
Ao retornar da cidade, a mãe deu pela falta da filha. Após uma longa e demorada busca nas redondezas, e a promessa de uma surra, caso ela não desse conta da irmã, o jeito foi abrir o jogo. Foram atrás dos ciganos e quase não conseguiam desfazer o escambo. No fim da história, todos riram com a maluquice, e sua amiga acabou ficando livre do prometido.
Por essas e outras, continua muito cismada com ciganos.
Dia desses, andando pelo centro da cidade, ouviu: “O futuro está em suas mãos! Deixa a cigana ler? Não cobro nada. A moça dá o que quiser…”. Sem dar atenção àquela velha cigana, continuou seu caminho a passos largos. Contudo, logo adiante, foi abordada por outra, sendo essa um pouco mais jovem e insistente.
Justificou a pressa do momento e bateu em retirada para dentro da primeira loja que viu à sua frente.
Afinal, para a alta tecnologia de um leitor, as digitais poderiam ser invisíveis, mas não o seriam para quem traz o encantamento nas palavras que diz, ao ler o futuro nas linhas de uma mão.
Sabe-se lá... podia ficar tentada a trocar “ouro velho” por alguma bugiganga ou, então, por um punhado de sonhos!
Hipnotizada pelo vai e vem do ferro de passar roupa, guiado por suas hábeis mãos, perdia-se nos próprios pensamentos.
Olhou a pilha de roupas e constatou que gostava de cozinhar, lavar a casa, a louça, a roupa, o quintal… Mas, definitivamente, passar roupa não era o seu forte.
Não fosse a impaciência em juntá-las, com certeza arrumaria uma pessoa para fazer esse serviço.
Pensando ainda nas próprias mãos, olhou-as por um instante e constatou o quão gastas estavam. O uso constante de produtos de limpeza era o grande vilão desse horrível resultado. Suas digitais estavam desaparecendo. Dia desses precisou fazer o reconhecimento delas no leitor da guarita do prédio em que seu filho mora, e não conseguiu. Acabou por receber um chaveiro com um número de identificação. Quase teve um chilique! Riu sozinha da própria situação.
Isso a fez lembrar-se das ciganas…
Será que a falta de digitais também interfere na leitura das mãos? Talvez seja esse o motivo delas nunca terem acertado as predições feitas em relação à sua vida – risos...
Ciganas... Misteriosas, enigmáticas... Sempre teve medo, mas sentia-se atraída por elas. Quando pequena, sua mãe dizia com muita frequência:
– Cuidado com os ciganos! Eles roubam crianças, levam para bem longe dos pais e ensinam a roubar ou, então, as vendem como escravos.
Quando via uma tropa de mulas pastando nos terrenos baldios próximos à sua casa, ficava logo em alerta, pois, com certeza, os ciganos estavam por perto.
Passavam nas casas oferecendo tachos de bronze que trocavam por “ouro velho”. Sempre vestidos com roupas extravagantes e ornados de muitas joias que, segundo as más línguas, eram roubadas.
Tinha em mente alguns casos pitorescos vividos com ciganas.
Um deles: tempos atrás, logo que veio morar por essas bandas, recebeu a visita inesperada de uma cigana velha.
O portão escancarado e a porta da sala aberta, devido ao calor escaldante de uma tarde de domingo, facilitou o livre acesso da mulher até sua sala de visitas.
Atendendo ao apelo desesperado do filho mais velho, que à época tinha apenas oito anos, veio até a porta que divisava com a sala. Qual não foi a sua desagradável surpresa ao ver a cigana, muito bem acomodada, numa das poltronas.
Assustada perguntou o que ela desejava. Imediatamente pediu pó de café, o que de pronto ela correu para atender, lógico que com “um olho no peixe e outro no gato”.
Mas, quando à sala retornou, a cigana, em agradecimento, insistiu em adivinhar o seu futuro e, por mais que se negasse, ela puxou sua mão e começou a falar tolices. Agoniada, foi logo despachando-a. Isso porque a cigana ainda insistia em predizer um casamento para breve… lógico que, com base na ausência da aliança em sua mão, mania de tirá-la sempre que lavava a louça.
Outro caso foi com uma amiga. A história se passou em sua infância. O Dia das Mães estava próximo e ela queria dar um presente para sua genitora. Como as dificuldades financeiras na época eram grandes, aproveitou a ausência da mãe e trocou a irmã caçula por um tacho de bronze.
Ao retornar da cidade, a mãe deu pela falta da filha. Após uma longa e demorada busca nas redondezas, e a promessa de uma surra, caso ela não desse conta da irmã, o jeito foi abrir o jogo. Foram atrás dos ciganos e quase não conseguiam desfazer o escambo. No fim da história, todos riram com a maluquice, e sua amiga acabou ficando livre do prometido.
Por essas e outras, continua muito cismada com ciganos.
Dia desses, andando pelo centro da cidade, ouviu: “O futuro está em suas mãos! Deixa a cigana ler? Não cobro nada. A moça dá o que quiser…”. Sem dar atenção àquela velha cigana, continuou seu caminho a passos largos. Contudo, logo adiante, foi abordada por outra, sendo essa um pouco mais jovem e insistente.
Justificou a pressa do momento e bateu em retirada para dentro da primeira loja que viu à sua frente.
Afinal, para a alta tecnologia de um leitor, as digitais poderiam ser invisíveis, mas não o seriam para quem traz o encantamento nas palavras que diz, ao ler o futuro nas linhas de uma mão.
Sabe-se lá... podia ficar tentada a trocar “ouro velho” por alguma bugiganga ou, então, por um punhado de sonhos!