A IDADE, UMA IMAGEM
Você já se viu parado, sentando, olhando para a parede da garagem da casa dos seus pais? O estranho não é a fotografia posta em palavras, a cena, para os dramáticos, o momento, porém, a situação, parece egoísta falar sobre envelhecer e derramar uma quantidade significante de lamúrias, como se já tivesse vivido o que dizem ser uma vida toda ou completa, pensando melhor, completa apresenta uma conotação diferente de “uma vida toda”.
Certa vez, ouvir uma determinada música que falava sobre ter vinte anos e cansaço e todo um fardo de existir, a música era bonita, o problema é que não é vinte anos ou os vinte e pouco, engraçado como o peso da idade faz pensarmos tão drasticamente, digo sobre ter trinta. A fonética não deixa mentir os sons, sim, pois o soar diferente também se reflete naquilo que vamos nos tornando pelo caminho.
E parece um meio termo, a idade, esta idade, a tal, como se na parte de dentro estivesse se divisando tanto do que nos tornamos nesse processo de ser e estar dentro do caótico. É uma idade superestimada, ou já foi, de todo modo, penso que aos trinta soa com todas aquelas projeções esperadas sobre o corpo, a vida, algo assim.
Engraçado é quando você lembra daquela professora, que deveria ter por volta dos trinta, e recorda pensar em como deveria ser a vida dela, talvez amena, porém, com aquela sua consciência infantil devaneasse rosas brancas e almofadas francesas; ou a professora da universidade, toda semana uma roupa diferente, enfim, esse tipo de gente que parece ter uma vida formada.
Pensando bem: o que é mesmo uma vida formada? Eu não gostaria, não nesse momento, de pensar em tantas definições, em concepções e considerações acadêmicas. E não vou. Essa ideia de uma vida formada, de estabilidade aos trinta é meio um romance, uma lenda urbana e o almejo de qualquer um, no fundo porque nunca saibamos o que venham a ser tudo isso.
É que a solidão também bate, como aquele poema sobre a vida, é que você muda e estar em constantes mobilidades, demasias, perdido em dias de chuva, olhando pessoas na rua e imaginando tantas possibilidades, e sabendo do cansaço e do peso depositado sobre as costas de gente que não deu certo e no fim do dia pensa nas bobagens e planos de no ano que vem mudar de cidade, ou se pega no meio da noite acordado imaginando pequenos gestos que podem ser prazerosos em outros contextos, que nada faz sentido, porque não é o fato de envelhecer, mas de achar que deu errado quando ainda se estar em movimento.
Porque talvez a idade seja isso, seja redação pronta do enem ou gente que dá certo, por privilégios, por tantos privilégios, e gente que anda tentando. E quem sou eu no meio de tudo isso? Não sei, pelo menos, ao voltar a cena inicial, posso desviar o olhar e observar a noite e as palmeiras do jardim, enquanto, enquanto...