PASSOS RANÇOSOS,
em memória do silêncio

 

EM SUA AVANÇADA IDADE, uma pessoa tão apagada e devagar que a sua presença parecia empoeirada e a fala enlameada. A cabeça, tal qual um gabinete esquecido, cujas ideias eram uma mistura de ingredientes tóxicos, rangia a cada desidratado pensamento (cenário frequente dos seus tormentos). Sentia saudades do som dos pássaros e até mesmo do silêncio. O mundo atual, em pleno ruído e insuportavelmente barulhento e povoado,  o impedia de se conectar com a natureza.  Há tempos que não se lembrava nem de si mesmo. Caminhava sobre o fantasma que se tornara a sua vida, e pretendia alguma coisa... mas já era página rasgada de algum manuscrito esquecido. Apenas seguia, desempenhando a sua condição de sujeito do mundo.

 
Letra e Café
Enviado por Letra e Café em 09/08/2021
Reeditado em 09/08/2021
Código do texto: T7317056
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