O Dia dos Pais

Era uma vez, num tempo distante, quando as pessoas moravam ainda nas fazendas e sítios nas montanhas de Minas Gerais, dona Rita recebeu a visita de uma vizinha sua, pobrezinha e sem estudo. Estudar, naquela época, era para gente abastada e, ainda por cima, para os homens. As mulheres tinham de ser boas nas prendas domésticas, nada mais que isso.

O dia era de um agosto fumarento, na seca bendita, que na verdade nada mais é do que a gestação da primavera. A natureza ajudava como podia com os ipês amarelos e roxos, a fim de colorir um pouco a paisagem poeirenta. Samena vinha com os filhos, João e Vicente, pulando a sua frente, empolgados com o encontro com Bentinho, filho dos visitados. Mas ao aproximarem da porta, os meninos se aquietavam, e sentavam no chão, ao lado do banco da mãe. Bentinho escutou a conversa das vizinhas e veio ver os amigos. Ficou por ali, a princípio, vendo a mãe fazer a galinha para o almoço.

Dona Rita falou à Samena que naquele dia se comemorava o dia dos pais e perguntou se ela estava se lembrando. Samena pensou um pouco e na sua simplicidade, respondeu:

- Uai, então Deus há de abençoá nossos fio, porque esse é o maió presente pros pai.

Bentinho não entendeu a resposta de Samena na época. Só quando foi pai, percebeu a profundidade e sabedoria de dona Filomema, cujo nome os mineiros abreviam tudo e a chamavam de Samena.

(Dedico ao meu amigo Desembargador Dr. Pedro Bernardes de Oliveira, quem inspirou-me essa crônica).

- eu e papai nessa foto -