Ela veio de novo

Clarice tinha 25 anos e morava com seu namorado de 40 anos num bairro simples de São Paulo. Os dois trabalhavam, não tinham filhos nem pets.

Clarice perdeu sua mãe há dois anos, não conhece seu pai e não tem nenhum familiar por perto. E ela por ela mesma. Quando conheceu seu namorado, Flávio, e foi morar com ele achava que teria o que ela nunca teve: cuidados, amor e carinho.

Clarice sempre foi muito transparente em relação ao que pensava e sentia. E ela sentia que daria certo, mas o início foi peculiar. O medo imperava em meio a paixão e atração física. Muitas vezes ele a mandou embora, criticava sua aparência e fazia questão de machuca-la tudo em nome do medo.

Mesmo assim ela insistiu. É melhor saber que alguém está lutando contra um sentimento nutrido por você do que estar com alguém que finge gostar de você só para satisfação física.

Ela insistiu, ele cedeu e logo foram morar juntos. Péssima ideia,eles mau se conheciam e não sabia das manias um do outro. Quantas manias: brigar pelo copo está pra baixo, por que o papel higiênico está para a parede, por que a cama não está no canto, por que a janela está aberta.

Ela nunca se sentiu podada e presa como nesse relacionamento. Com os anos, aquela vivacidade foi acabando, a tristeza foi se instalando, a insegurança imperando, a raiva consumindo, a velhice se achegando e ele? Ah, ele ia crescendo, se tornando visível, se tornando ALGUÉM e ela ia desaparecendo com vontade de sumir, se entocar, se enterrar.

Clarice: Como pode? Ter tido uma infância violenta, triste, estando sozinha ter sobrevivido e saído disso e agora estar numa relacionamento que não te dá energia e que não consigo sair ?

Agora me sinto louca, pois TUDO QUE DIGO E SINTO é questionado por ele. Ele define o que é certo e o que faz sentido. Tenho vontade de gritar e sumir.

Enquanto ele continua se tornando ALGUÉM e eu vou sumindo.

Clarice acorda as 7h num domingo ensolarado e decidi acabar cm essa merda. Não, ela não busca a morte, mas a vida.

Ela pega a mala preta do canto do quarto, coloca suas poucas roupas, objetos pessoais, sapatos e alguns livros.

Escreve uma carta simples e objetiva:

- estou indo para eu fuder minha vida sozinha. Não preciso que ninguém faça isso. Estou cansada, não sei ainda se esse relacionamento suga minha energia ou está no meu sangue ser assim. Beijos isso não era amor .

Ela pegou a mala saiu pela porta e sentiu um brisa fresca no rosto, parecia ser um sinal do universo dizendo o que iria acontecer.

Ela ligou para uma amiga que morava sozinha e perguntou se ela estava afim de dividir o aluguel. Então ela foi com um sentimento de orgulho, por ter tudo coragem de mudar o que aparentemente lhe fazia mal.

Sua amiga estava viajando a trabalho, mas disse que ela poderia ficar e sua casa e que quando voltasse elas conversariam..

Clarice chegou na casa, colocou sua mala na sala, sentou do lado e chorou com um sentimento de alívio e medo.

Clarice: e agora ?? O que eu faço? Eu não sei nem quem eu sou.

Mas isso não durou muito. Ela decidiu tomar um banho, cozinhar e sentou na laje para olhar o bairro.

Clarice: - Que vista linda! Eu tinha esquecido que o mundo era maior do que aquela janela enorme no quarto onde eu dormia.

Respirou fundo a sentiu outra brisa fresca. Seu peito está escancarado e parece que a coragem havia brotado novamente em seu peito.

Traçou um plano:

Se eu for ficar aqui por alguns dias, vou precisar procurar uma casa para alugar, ver quanto vou gastar, gastar o menos possível e continuar trabalhando e estudando. Ah não, não trouxe meu notebook. Que merda!! Vou precisar falar com ele. E isso trazia muita ansiedade, pois ela sabia que se fosse falar cm ele seria no mínimo 5 horas de conversa.

Dayane Dark
Enviado por Dayane Dark em 08/08/2021
Reeditado em 08/08/2021
Código do texto: T7316394
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