Bilhões de estrelas
Hélio estava sentado em frente à televisão no sofá que comprara com muito custo a prestações. Pagara uma a uma como não tivessem relação uma com as outras. Pensava em uma prestação de cada vez para evitar ficar ansioso. Comprara na verdade doze sofás (prestações) que no final virou um. Assim não ficava preocupado antecipadamente. Cada mês tinha um valor a ser pago e isso era o bastante. Era como se as outras prestações não existissem. Assim ia levando a vida e comprando suas coisas. Um dia de cada vez. Aprendera isso um dia na igreja. O Padre leu uma parte da bíblia em que Jesus recomendava exatamente isso. E não é que dava certo! Um dia de cada vez.
Hélio estava assistindo ao jornal das oito horas. Não perdia. Gostava principalmente das reportagens que falava sobre astronomia. Difícil era ter que ver todas aquelas notícias tristes e inúteis que passavam antes. Fazer o quê? A vida é assim como um telejornal: agente tem que fazer um tanto coisas tristes e inúteis pra poder fazer algumas interessantes. Não é mesmo?
Bem naquela noite Hélio vira uma reportagem sobre o universo que mudou a sua vida: o cientista de óculos grandes anunciou: Há no universo bilhões de estrelas iguais ao nosso sol. Ele ficou meio que espantado com essa notícia. Imediatamente fechou o olhos e imaginou o céu com bilhões de estrelas e quando os abriu tinha um olhar diferente no rosto. Seu olhar, que antes era nervoso e ansioso agora estava sereno; uma serenidade simples e humilde, pois, era isso que ele era: uma pessoa simples e um humilde habitante de um pequeno planeta que girava em torno de uma estrela entre as bilhões que existiam. Estranhamente, todos os seus problemas, que não eram poucos, ficaram tão pequenos que quase desapareceram. Uns que eram miudinhos até que sumiram sim.
Bilhões de estrelas. A vida se abriu diante dele como uma imensa cortina de um grande teatro e ele então pode ver a sua grandiosidade. Bilhões de estrelas e nós aqui nesse planeta que é apenas um grão de poeira, muito bonito por sinal, mas é apenas um grão de poeira no universo, nos matando por coisas tão pequenas, pensou. Bilhões de estrelas e algumas pessoas maltratando outras como se o nosso mundo fosse o centro do universo e valesse apena possuir espaços e coisas que na realidade não passam de poeira.
Ah! Mas amanhã tudo vai estar mudado, pensou. As pessoas terão visto essa reportagem e com certeza vão mudar e quem não assistiu vai ouvir de quem assistiu e também vão mudar; com certeza. E Hélio adormeceu de cansaço diante da televisão, pois, tinha trabalhado duro o dia todo.