Eleições e eleitos

A crença dos brasileiros em seus políticos anda mais fria do que inverno polar. Não é para menos. Se plantamos trigo, é natural que colhermos joio nos entristece. Eu não arredo o pé da premissa de que político honesto é como pé de cobra: quem o vê morre! É a história da política brasileira que nos tem mostrado esse axioma!

Os políticos atuais não retiraram muito dos trajes de ontem onde, por debaixo do diagonal branco bem engomado dos antigos coronéis, camuflavam-se a violência, o domínio, a esperteza e o descumprimento de promessas de campanha. Arrilá, e bota ruindade nisso!

Eivados de intenções ocultas, eles se diluem no silêncio dos injustos e legislam e executam em causa própria. Encarnam os escândalos e querem safar-se da sujeira que tecem como se usar diagonal branco não exigisse muita higiene e pose nata. Não se compram no botequim o bom caráter e uma alma mansa e justa. É por isso que a gente vê muito desses políticos estampando um sorriso envergonhado como se desfilar entre seus eleitores os desnudasse e evidenciasse seu mau-caratismo.

E viver-se sem ter a alma livre e perdoada por nossa própria consciência é ser-se o próprio vulto acintoso do pecado. Resigno-me a corrigir meu medo de escolher os candidatos. Que não prestam, eu sei que essa crença vale para a sua grande maioria; não devo votar sem enxergá-los sob o diagonal branco nem saber o tamanho da arrogância que destilam. Nada disso é perdoável para quem está cansado de eleger os frutos podres da democracia. Estamos terceirizando o patriotismo com a mídia e as propagandas apelativas que nos enchem de um sentimento molengo, vindo da impregnação deixada por esses discursos cheios de mel. Esta é a praga maior de nossos erros: acreditarmos em tudo o que ouvimos deles.

O Estado tem a obrigação de combater a financeirização das eleições. Essas fortunas financeiras gerenciando os pleitos eleitorais, estão comprometidas com um grupo muito pequeno, mas poderosíssimo, da República heterogênea em que vivemos. O Estado deve mesmo bancar tudo e disciplinar esse jogo imundo chamado eleição.

O Brasil precisa urgentemente sair de sua adolescência comprometida com esses zeladores do próprio bolso e enveredar pelas largas estradas do desenvolvimento limpo, participativo, justo!

Parece-me que a emenda constitucional que previa o financiamento público das campanhas eleitorais foi mesmo rejeitada (27/06/2007). Assim é que não pode ficar. Ou se muda para melhor e já ou teremos que continuar a conviver com pleitos sujos e eleitos mais sujos ainda. E como no Brasil as coisas erradas só são censuradas quando escandalizam, vamos ver se o momento atual por que passam, a política brasileira e várias de suas importantes instituições, sirva-nos de alerta e motivação para essa tão esperada e desafiadora mudança que a sociedade tem pedido em forma de clamor!