"Corpo de Delito": uma forma inteligente de investigar

Um empresário dos ramos comercial de produtos importados, estava prestes a proceder demissão em massa de todos os colaboradores de sua empresa por não ter condições de identificar a autoria de sucessivos furtos de mercadorias de uma de suas lojas, cujos prejuízos mensais estavam aumentando a cada mês que sucedia.

Embora suspeitando de alguns trabalhadores, resolveu procurar a delegacia de circunscrição da área, a fim de requerer abertura de inquérito policial com vista a elucidar aqueles furtos permanentes e, quiçá evitar cometimentos de grandes injustiças, sobretudo naquele período, pois se tratava de época próxima ao festejo natalino no ano de 2007.

Registrada a Ocorrência policial, de logo se iniciaram as investigações.

Diante das anotações do delegado em torno das declarações prestadas pela vítima, resolveu empreender diligências logo no dia seguinte, começando pela intimação de um dos suspeitos justamente o que residia próximo ao comércio. O que lhe despertara possibilidade de ser o alvo procurado ante a leitura preliminar de todos os dados coletados.

O delegado juntamente com um dos investigadores foram ao endereço constante nos assentamentos funcionais do tal colaborador, ainda na tarde do dia seguinte, de maneira que, muito ficou preocupado em razão da possibilidade da demissão em massa de outros trabalhadores num período de festejo tão delicado na cultura brasileira que se trata do Natal, dentre outros constrangimentos que aquela indigitada ocorrência poderia ter em desdobramentos.

Ao chegarem na porta da residência do primeiro suspeito, deu um “estralo” na cabeça do delegado, momento em que se deparando com uma senhora na porta da residência se despedindo de uma possível visitante, resolveu, antes de realizar a entrega da carta de intimação, informar àquela citada senhora que acabara de receber uma denúncia dando conta que naquele endereço havia um “corpo” e precisava checar se havia procedência naquela denúncia, ocasião em que de forma instantânea a mencionada senhora de pronto autorizou que adentrassem à sua casa a fim de checarem se havia procedência daquela denúncia ou não, ou se tratava de mais intrigas históricas de vizinhos.

Olhando todos os cômodos da casa, lá nos fundos se depararam com quarto repleto de produtos furtados da empresa, momento em que interpelada acerca de quem eram aqueles produtos, de imediato informou que pertenciam ao seu filho que trabalhava numa loja ali perto e “os ganha” de seu patrão.

De logo fora conduzida à Delegacia a fim de prestar depoimento, momento em que imediatamente fora intimado o funcionário da loja, possível responsável inicial por aquelas subtrações, que, vendo sua genitora em situação vexatória, de imediato confessara que costumava levar os produtos subtraídos da loja e os colocava na lixeira próxima, enquanto seu colega de trabalho, o vigia da área, encarregava-se de levar os produtos para a residência do citado funcionário, com vista a não despertar a atenção dos demais colaboradores, bem como de outros empregados das lojas que ficam nas adjacências da empresa vitimada.

Em determinado momento, autor dos furtos perguntara diretamente à sua genitora por que havia deixado a Polícia adentrar à sua residência, de logo respondeu que se surpreendeu, pois jurava que não havia “corpo” algum dentro de sua casa, ignorando que não se tratava de um corpo da espécie humana, mas de delito, mais precisamente dos inúmeros objetos subtraídos da loja vítima e comunicante dos fatos ao rogar justiça diante da tamanha injustiça coletiva que iria cometer ao demitir todos os colaboradores, causando prejuízos imensos a um grupo de trabalhadores, especialmente naquele Natal que terminou “renatalizando” várias famílias no resguardo de seus empregos, com reflexos profundos no campo social decorrente.

Os verdadeiros autores do crime furto continuado foram identificados, indiciados e o inquérito remetido à Jusitça.

Aquele episódio a partir dali ficou conhecido na rotina daquele Distrito Policial como sendo "a estória do corpo de delito" que não era de um humano, que salvou tantas pessoas pelos corpos diversos de delitos encontrados na casa de um dos suspeitos que passou a ser o principal protagonista, não fosse sua genitora na confusão de lutar para demonstrar que em sua casa não havia qualquer "corpo humano”, menos do que não sabia, dos produtos subtraídos da loja pelo seu filho em concurso com o vigia condominial.

Sebastiao Uchoa
Enviado por Sebastiao Uchoa em 06/08/2021
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