Recomeço

De repente, precisava viver. E precisava muito. Viver muito. Precisava escrever, cantar, me expressar. Precisava de novos amigos, de novos assuntos, de um novo lugar.

A verdade é que eu descobrira a escrita ainda muito nova: insone, via os sentimentos que me levavam de mim crescerem, me absorverem, até precisar, desesperadamente, encontrar um papel e uma caneta, em meio à noite interminável.

A insônia me fora grande companheira: à noite, tive minhas melhores ideias. Escrevi meus mais sinceros poemas e, desafinada, cantei para a minha solidão. A escrita tornou-se meu escape do mundo, minha imensidão, minha terapia.

Aos poucos, descobri que, muito além do amor pelas palavras, a escrita me permitia viver. Ou escrevia, ou não sobreviveria. O processo é, quase sempre, o mesmo: após um acontecimento, o turbilhão de pensamentos, o coração acelerado e, sem que eu possa controlar, as palavras se despedem de mim. Elas ganham vida, contornos e destinos inesperados. Por vezes, me surpreendo: “então era isso que tanto me incomodava?”. A verdade é que esses esboços são a mais sincera parte de mim.

Hoje, escrever tornou-se um hábito. Descobri, pouco a pouco, o poder do amor em um coração que teima em ser poeta e, tímida, guardo as eternidade do cotidiano no bloco de notas do meu celular. Descobri que não há nada mais bonito que um coração verdadeiramente apaixonado. Descobri coisas que, até mesmo, não cabem em palavras!

Arrisco dizer que escrever é o que mais amo nessa vida. Nem mesmo os sonhos mais almejados superam a magia de bons versos. Mas, para escrever, é preciso viver. É preciso errar, se enganar, recomeçar, sonhar. Talvez seja esse o tema desse texto: o recomeço. Me acostumei a falar baixinho, a pedir desculpas, a guardar poesias no bloco de notas do celular.

E, caminhando, quando vi a distância que me separava daquele tão almejado lugar, senti que precisaria falar bem alto, talvez até mesmo gritar. Havia chegado a hora: a poesia se despediria do meu celular.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 06/08/2021
Código do texto: T7314906
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