O Aprendizado perante o Sofrimento da Pandemia
Além de evidenciar no campo social a velha luta de classes e o desmoronamento da retórica neoliberal, no âmbito subjetivo/existencial, a pandemia nos mostra que parte fundamental da vida são as pessoas próximas a nós. Reclusos nos lares e todo tempo nervosos com as informações catastróficas que chegam, nós reforçamos (mesmo que muitas vezes de forma irracional e baseada no medo) o sentimento de que só nos realizamos, somos completos existencialmente falando, na relação com os sujeitos presentes em nosso dia a dia.
O coronavírus além de dizimar vidas, tem demonstrado que dinheiro, fama e estabilidade profissional de nada valem. O monstro biológico tem arrasado a economia mundial, gerado desemprego em massa, infectado astros de cinema, preocupado chefes de Estado e jogado em nossas faces uma série de superficialidades típicas da vida moderna.
O que resta perante os destroços ocasionados pelo vírus? O aprendizado de que nos realizamos nas relações com outras pessoas - precisamos uns dos outros. O desastre biológico tem nos demonstrado que o cotidiano confeccionado por excessivas jornadas de trabalho e pelo uso excessivo de tecnologia tem nos afastado do real convívio humano. E agora se percebe que isso é tão vital – vivenciado num momento de crise. Aqui em casa a minha mãe sintetizou muito bem essa lição: Dennis, essa doença vai servir para as pessoas colocaram a mão na consciência e pensarem como se relacionam com o próximo. Eu também senti isso muito intensamente quando meu pai (num dia tranquilo) me ligou com excessiva preocupação ao imaginar que eu estivesse com os sintomas do coronavírus. Foi um momento de tensão, mas que reforça a ideia de preocupação com os nossos queridos.
Enquanto esperamos a cura biológica para a doença, o sofrimento ocasionado por essa tragédia nos trará outra redenção: é no meio do isolamento, cercados de limitações, que podemos nos tornar mais tolerantes, mais humanos, mais preocupados com o próximo. O sofrimento é pedagógico, é um tônico para a vida, pois nos força a refletir sobre nossas limitações e gera elementos necessários para nos livrarmos das superficialidades que estamos tão apegos. Portanto, que o amargor do coronavírus crie anticorpos como empatia e proximidade entre corações e mentes. Que os doentios corpos no campo dos valores busquem expugnar anomalias que impeçam o calor humano.