Crônica do Mau (de Mauricio): Sobre Pais e Filhos

Conheçam a história de um filho.

Ou uma filha.

Infelizmente, não é a história com final feliz.

Nome?

Não tem!

Ou melhor, tem muitos nomes, cores, raças, rostos pois infelizmente a história mostra há muitos filhos ou filhas assim.

A história mostra que o ser humano pode ser muito amargo, orgulhoso, arrogante e impiedoso.

E tem aquele caso do filho (pode ser filha, quando eu falar filho é genérico, ok?) que se afasta dos pais, que não conversa com os pais, não aceita contato... renega os pais.

Não valoriza, não respeita, não reconhece o que os pais fizeram por ele em todos os sentidos possíveis.

Criação, educação, subsistência... tudo que os pais proveram, eles renegam.

Não reconhecem.

Não tem gratidão alguma.

Não honram pai e mãe (como sinaliza o Mandamento Sagrado da Bíblia) e uma cultura humana geral.

E se afastam egoisticamente dos pais.

Não demonstram (provavelmente porque nem sintam isso) amor, carinho, afeição ou respeito.

Não são gratos pelo simples motivo de terem pais, que no mínimo lhe deram a possibilidade da vida.

Sendo que tem tanta gente que batalha tanto só para saber se os pais verdadeiros (aqui novamente genérico, pode ser pai, mãe ou ambos) estão vivos, e sonham em conhecer os pais.

Até os adotados, criados por pais adotivos, desejam saber quem foram seus pais biológicos e sua história de vida.

Muitas vezes por mais que os pais tenham procurado, tentado contato, pedido perdão, tenham se humilhado, clamado... os filhos de coração duro, não perdoam os pais.

São orgulhosos.

Arrogantes! Ingratos!

No caso, não são crianças ou adolescentes birrentos somente.

Há casos de filhos adultos que se portam dessa forma.

Podem ser filhos de pais separados ou não.

Em caso de pais separados, muitas vezes foram submetidos a alienação parental.

O que explica essa atitude.

Explica, mas não justifica.

Toda interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos pais, por avós ou por qualquer adulto que tenha a criança ou o adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância, pode ser considerado como alienação parental.

O pais provavelmente tiveram suas diferenças com eles, claro!

Mas nos casos que aqui sinalizo,

não houve caso de abuso sexual, agressão, lesão corporal, assédio, ou qualquer coisa realmente revoltante ou repugnante para justificar a atitude.

Nem caso de abandono ou deixar de dar provimento. De dar sustento.

Essa semana teve uma ocorrência em Valinhos, interior de São Paulo, cujo filho de 14 anos, cansado de sofrer violência de todo o tipo contra si e contra a mãe, pegou uma arma e atirou no pai.

Matou.

Essa foi a notícia que nos foi fornecida.

E se realmente foi assim, é compreensível.

Justificável.

Passível até de ser considerado legitima defesa.

Mas não são esses casos de violência clara que me refiro.

Falo de casos de filhos com problemas psicológicos com seus pais.

Imaturos.

Com sua criança interior ferida.

Que se tornam birrentos.

Que deveriam fazer terapia, constelação familiar, etc.

Freud e outros não só explicam, como estudaram muito essa questão de filhos em relação a pais.

Alguns desses filhos além de renegar os pais, eles se auto sabotam, buscando muitas vezes uma vida desregrada. Pode ser através do álcool, drogas ou até no mundo do crime.

Vivem uma vida de negação da realidade.

Filhos que não aceitam ou tem problemas com autoridades.

Ou que quiseram coisas, mimos, presentes que os pais não quiseram ou não puderam dar.

Se magoaram com a disciplina talvez rígida dos pais.

E não entendem, não reconhecem, não tem maturidade para perceber que os pais fizeram o seu melhor, o que podiam e acreditavam ser o melhor para esses filhos.

É desses filhos que me refiro.

Com certeza e infelizmente todos nós conhecemos um caso assim.

Final da história?

Normalmente finais infelizes.

A menos que os filhos amadureçam, procurem ajuda terapêutica, fica difícil a reconciliação.

Muitos se tornam pais e amadurecem.

Passam a entender os pais.

E se reconciliam.

Mas ter filhos não é garantia de amadurecimento e de compreensão com os pais.

Muitos continuam afastados, afastam os filhos dos seus pais (ou seja, afastam netos dos avós) passam a criar os filhos da forma que eles acham certo, totalmente diferente da criação dos pais.

Proporcionando uma "quebra" na relação e continuidade da família.

Desrespeitando e não reconhecendo toda uma ancestralidade.

Há casos até de filhos que renegam tanto os pais, que nem colocam o nome dos pais, o nome de família.

Acreditem, acontece...

Muitos desses filhos foram "mimados" demais e de forma errônea por pais ou por avós.

E se tornaram pessoas exigentes demais e intolerantes.

Que só querem valer sua vontade.

Seus gostos e desejos (nem sempre necessidades).

Não aceitam não.

Nem dos pais, nem do mundo.

Qual o fim provável e triste dessa trajetória?

Os pais morrerem antes de um encontro, de uma confraternização.

Aí os filhos vão sofrer... isso de se derem conta.

E esse arrependimento, se vier, pode marcar suas vidas de forma negativa.

E tem os que diante da morte dos pais, é tão dura, nem se dão conta, não sentem nada.

Pois são pessoas infelizes.

De coração fechado.

Sem perdão.

Não sabem (e depois vão sofrer) por que com a severidade que julgamos, seremos julgados.

Está escrito.

A primeira pergunta que faço: será que eles serão pais perfeitos. Sem erros?

Será que seus filhos não serão pior para eles, em comparação ao que fizeram, renegar os pais? Será?

Ou não farão pior?

Mimando mais e mais e criando pessoas mais problemáticas emocionalmente?

Será que esses filhos também não se revoltarão com eles?

E não farão a mesma coisa?

Ou pior?

O que a gente planta, iremos colher.

Lei da ação e reação.

Lei do Karma.

A última questão a esses filhos: vocês que renegam os pais, não tem amor, respeito, renegam os pais, quando eles morreram e vier herança (dinheiro, bens, etc) vocês também vão abrir mão?

Vão?

Duvido...

Finalizo com uma parte (apropriada) da música "Pais e Filhos" da Legião Urbana:

"É preciso amar as pessoas

Como se não houvesse amanhã

Porque se você parar pra pensar

Na verdade, não há

...

Você me diz que seus pais não o entendem

Mas você não entende seus pais

Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo

São crianças como você

O que você vai ser

Quando você crescer?"

...

Só há um jeito dessa história ter um fim diferente: amadurecimento dos filhos que renegam os pais.

Senão será triste o fim da história.

Mauricio Franchi (Veeresh Das)