Vende-se

CPI voltando, Bolsonaro investigado em inquérito administrativo aberto no TSE e, também, no inquérito das fake news no STF, em resposta à patética live de quinta em que admitiu não ter provas de fraude nas eleições.
Enquanto isso, a voz das ruas que ele diz representar está cada vez mais minguada, como demonstraram as manifestações deste final de semana. E mais... Ele não se emenda: continua atacando pessoalmente o ministro Barroso e as urnas eletrônicas e ameaçando a democracia. Nesta toada, perde o apoio do centrão que sempre soube a hora certa de abandonar o barco. Oremos que seja logo, pois, cada hora do capitão no Planalto corrói o estado de direito e afronta as instituições, além de lesar o patrimônio nacional.
A bola da vez, questão de honra para Guedes e uma espécie de redenção pelo fiasco de sua gestão à frente do superministério, é a privatização dos Correios. A estatal ê lucrativa, independente do Tesouro Nacional e, nos últimos 20 anos, repassou mais de R$ 9 bi ao Governo Federal. Houve um período de dificuldades a partir de 2013, mas a recuperação iniciada em 2017, não parou mais, mesmo disputando espaço com multinacionais como a Amazon, Fedex, DHL ou as nacionais Mercado Envios e Magalu. É um mercado altamente competitivo, do qual os Correios detém 40%.
Sim! O monopólio vale apenas para mensageria (cartas, telegramas, impressos) e equivale a uma parcela cada vez menor do lucro da empresa. Ainda assim, é um monopólio e é importante lembrar que, o projeto que tramita hoje na Câmara não prevê sua quebra, ou seja, se isso representa um grande problema para quem ainda gostaria de disputar esse minguante nicho e para quem acha que o valor seria melhor com a livre concorrência, imagina esse monopólio na mão da iniciativa privada.
Um outro ponto que merece observação é a atuação dos Correios em áreas deficitárias, desinteressantes à concorrência. Como garantir que a iniciativa privada entregue em favelas tomadas pelo tráfico ou milícias ou, ainda, nos longínquos rincões deste nosso enorme país? 
Some-se a isso o papel social da Empresa, que capitaneia ou apoia ações humanitárias, como o conhecido Papai Noel dos Correios, campanhas de aleitamento materno e socorro a vítimas de desastres ambientais.
Nos países onde a privatização ocorreu, como Reino Unido, Portugal e Alemanha, além das milhares de demissões, o aumento dos valores postais foi absurdo e, na Argentina, o desastre foi tão grande, que houve a reestatização.
Mesmo depois de saber tudo isso, é possível que você seja um liberal e, em nome do Estado Mínimo, ainda defenda a privatização.
Alguns economistas argumentam que é melhor abrir mão de dividendos futuros, por um montante que poderia ser investido, agora, em áreas prioritárias para o país, como saúde e educação. Considerando, porém, as prioridades deste governo, será que é mesmo nessa mesa que você quer ver assada a sua galinha dos ovos de ouro?

 
Texto publicado na minha coluna semanal do jornal Alô Brasília.
Veja no jornal acessando:
http://alo.com.br/impresso/qui-05-08-2021/
Estou na página 8, Vida & Lazer
Também pode ser lido na minha coluna online
https://alo.com.br/vende-se/