Flor(esta) que nunca murcha

A sombra do Samora saiu raizes! Descascou-se até sair água, que inundou todo povoado. Mesmo ela gotejando de dor, ninguém queria saber das varizes da flor.

As estrias choravam, ao pé da lingua do povoado. Dançavam também, as esteiras a cada arranque das mangas pensando ser colheita, mas não era colheita. Posto que, as mesmas eram verdes, só emanavam lágrimas de sal nos olhos gordos do povoado, emagrecido pela seca.

A fome era tanta, que o polen gritava a cada segundo "socorro Socorro", mas o povoado arriscava a própria sorte, deixem-me crescer, deixem-me crescer, já era tarde, as folhas viajavam a cada poda, e o povoado só se preocupava em movimentar suas capulanas pra se encher da enxertia. "Hoje acertamos uma boa sobremesa camaradas" gargalhava o povoado, "ah sim" respondia o pau-preto que abanava as mangas a cada instante.

"Socorro socorro, eu sou o vosso oxigénio não me matem, não se deixem levar pelo meu porte, vocês precisarão de mim no futuro", assim se consumia o suspiro da FLor, mas o silêncio fazia rebuliço no fundo do caule, "ah ah ah" assim enfiavam o pau-preto nos sacos todos ofegantes e satisfeitos.

No entanto, nada mais se via da sombra a não ser uma flor, esta que nunca murcha, despedaçada na própria utopia.

Eunisia Jamene

Chissola Daúd
Enviado por Chissola Daúd em 05/08/2021
Reeditado em 05/08/2021
Código do texto: T7314209
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