Adeus Meu Grande Amor
O plano de William era isolar-se uma vez por todas. A notícia da viagem de Sam e seu namoro com Felipe o haviam derrubado por um dia inteiro, foi um sábado todo sem existir.
No fundo de seu coração, entendia a incoerência que causaria no coração dela saber a respeito de seus sentimentos.
"Alessandra ficaria muito preocupada comigo, infelizmente ela é muito sensível aos sentimentos dos outros. A responsabilidade de acabar com esse amor é minha, não posso deixar ela sequer suspeitar disso. Mas, acontece que ficar perto dela não ajuda em nada. Cada segundo que eu passo perto só me faz perceber o quanto sou sortudo de tê-la conhecido. E embora a gente possa nunca mais se falar, tenho que guardar esses sentimentos comigo para que não a machuque, pelo menos ser um peso a menos pra ela"
Foi por causa disso que ele havia se afastado permanentemente de Sam. A bloqueou em todas as redes sociais e se certificou que ela nunca mais iria lembrar-se dele. No fim, levantou-se e tirou a poeira de sua roupa e decidiu seguir em frente com sua vida. Não do jeito que queria, mas fez garantir satisfazer sua própria alma as vezes. Sabia que nunca a esqueceria, como um bom amigo que nunca esquece. Mas também tinha a convicção de que alguma hora conseguiria andar com as próprias pernas.
Um dia depois da viagem, foi desastroso vê-la na sua porta com um ar de quem sabia tudo.
Ele sem entender o que acontecera, questionou:
- Não ia ser ontem sua viagem?
- O voo foi remanejado.
William queria sair correndo dali, olhou pra sua mãe e a viu fazer cara de culpada. "Que fofoqueira" pensou ele, ao se lembrar que confessara tudo a sua mãe dois dias antes.
Ainda com Alessandra a sua porta, mais ansiosa por respostas do que a inquisição espanhola, tratou de fazer o melhor para seguir o roteiro original: Não deixar ela saber absolutamente nada de seus sentimentos. O problema, é que ele não sabia o quanto sua mãe tinha contado para ela, então ele deveria investiga-la para saber como deveria levar a conversa e cumprir seu objetivo:
- Entre, você deve estar aqui para ver minha mãe, certo? Vou-lhe preparar um café... - Disse William sabendo que ela responderia negativamente para aquilo, mas que seria um ótimo gancho para começar a sonda-la.
- Não... - Disse Alessandra dando alguns passos para dentro. E acrescentou enquanto se sentava à mesa. - Vim para te ver, William.
- Me ver? Não precisava se dar ao trabalho. Somos só bons amigos, e não há necessidade de despedidas extras. Por que não foi visitar a Gwen?
- Ela pode esperar, tenho algo a tratar diretamente contigo, meu amigo. Se sentes a vontade para falar de teus sentimentos por mim? Ou vai continuar nesse joguinho mental para disfarçar?
William apertou os dentes e a olhou extremamente atemorizado. Novamente a inteligência de Sam o devorara como o leão que lambe os ossos da gazela. Sem saídas, começou a entrar na defensiva e tentou a confronta-la com sua realidade:
- Se você sabe o que eu sinto, entende o por quê eu não posso me revelar para ti. Se você entendesse isso, não viria aqui e pelo meu bem nunca mais me procuraria. Não sabe que amar alguém que não pode te retribuir, é sofrer? De outro modo, você já está compromissada. Eu preciso entender que não há perspectivas para continuar a gostar de ti. Preciso andar com minhas próprias pernas e começar a viver. Preciso te esquecer de uma vez por todas... Alessandra!
Ela o olhou de cima até baixo, aliviada por ter tocado na ferida logo no começo da conversa. Dali pra frente seu instinto sabia muito bem como lidar com aquela situação sem perder seu amigo. Era meramente uma batalha de convencê-lo e fazê-lo entender que amar é o sentimento mais nobre que um ser humano pode sentir.
- Estás perdido meu amigo. Querias guardar tanta dor só para si? Sabias muito bem que se me contasse, eu nunca iria te rejeitar. Eu iria te ajudar a lidar com seus sentimentos. Eu nunca te abandonaria. Não posso deixar meu amigo sofrendo por minha causa, que desgraça de pessoa eu seria? No mais, eu te amo, você entende o que quero dizer com isso?
William não entendia. "Amor? Ele sequer existe? Que tipo de amor é esse? É impossível amarmos e sermos amados. É amor de amigo? Amigos que passado um tempo me abandonam? Não importa o quanto eu procure, não importa o quanto eu me esforce, o único destino possível entre eu e as pessoas que amam é a distância. Foi assim com a Alessandra também, quando comecei a gostar dela, ela se afastou. Se minha mãe não houvesse contado sobre meus sentimentos, eu nunca mais iria vê-la novamente. É o débito de solidão da minha vida, o amor não existe para mim. " E após esse pensamento ele respondeu com a voz amargurada. — Não entendo... Que tipo de amor é esse? Que tipo de amor é esse que só você sente e eu não conheço?
— É por isso que estás perdido amigo. Sem amor você apenas existe, como uma ameba unicelular respondendo aos estímulos externos do dia a dia. Mas vida, vida realmente você não tem. Amar é se doar, apesar de tudo. Amar não tem haver com ser correspondido ou não, é simplesmente querer o melhor do outro mesmo que você seja desprezado, ou mesmo que nem saibam da sua existência. Eu te amo porque eu não quero te ver mal, quero que você esteja feliz. Mesmo se nós não estivermos mais perto um do outro...
William parecia ainda não compreender de que ela lhe falava. As coisas ainda se reviravam em sua mente em um contorcionismo angustioso. Sua cabeça começou a doer, e ele sentou. Ainda olhando para ela tentando discernir a mensagem, ele percebeu uma coisa.
— Alessandra... Não me diz que você remarcou o voo só por minha causa? — Ela se calou, confirmando a pergunta. William continuou. — Eu não queria que você soubesse dos meus sentimentos. Droga, eu não queria te incomodar nem cinco minutos, por que você está se sacrificando por mim? Por que você se preocupa comigo? Eu só sou um idiota que nem consegue ajudar quem ama. Eu não sou digno de você, nem da sua amizade. Eu não tenho capacidade de te fazer feliz, é por isso que não deveríamos nos falar... Droga!
Como Cristo disse ao concluir seu plano redentor. "Está consumado". Assim pensou Alessandra ao ouvir a última frase de seu amigo. E de repente, um sorriso de orgulho começou a tomar lugar em seu rosto.
E de uma proeza sem escala, ela terminou a conversa da seguinte forma:
Se levantou, enquanto William parecia querer começar a chorar, foi até a direção dele e o envolveu com seus braços. Uma quantidade sem precedentes de carinho e energias positivas começaram a emanar dela em direção a ele, que nesse momento deixou escapar uma lágrima ou duas.
"Nós somos amigos, idiota!" - Disse ela enquanto seu cabelo e suas mãos o abrigavam. Não precisou de dizer mais nada, porque ele entendeu tudo. William começou a rir ironicamente e se lamentou.
— Você me venceu de novo... Isso é porque você não tem exatamente uma resposta para minha pergunta, certo? — Ela balançou a cabeça confirmando que sim. Ele continuou. — Sem poder me explicar, você me fez sentir... Sinceramente, confesso que é genial. Essa onda de energia boa e calma circulando pelo meu corpo. De repente todos os meus pensamentos se acalmaram, e acho que agora bem no fundo, tenha finalmente encontrado uma resposta. Não se trata sobre quem vai ou quem fica, se trata sobre estar aqui, e agora... — Alessandra passa sua mão por entre os cabelos dele, e se afasta em direção a cozinha, com uma sensação de missão cumprida. E mudando de assunto, pergunta sobre o café que ele prometera.
— Oh, é mesmo, me esqueci. Vou fazer uma bebida quente para você agora, Sam. — Ela sorriu e respondeu — Muito obrigada.
— Não... Sou eu quem tenho que te agradecer... Obrigado.