A almofada

Entrou no supermercado para comprar alguma coisa; não sabia bem o que era; mas precisava comprar algo. Talvez só pelo prazer de comprar para satisfazer um desejo inconsciente de autonomia. Ter dinheiro para comprar algo o satisfazia. Nem sempre foi assim.

Houve um tempo em que ele não tinha dinheiro para comprar nada. Nem uma caixa de fósforos.

Foi andando devagar e olhando as prateleiras. Era uma infinidade de coisas. Será que precisamos de tudo isso, pensou. Mas não foi para filosofar que ele havia entrado no supermercado. Pensaria nisso depois; agora só queria comprar algo.

Uma pilha de almofadas chamou a sua atenção e logo se lembrou que almofadas nunca são de mais. Ainda mais para ele que tinha um probleminha na coluna e não se sentava sem ter o apoio de uma almofada, pois, sentia logo dor nas costas.

Observou atentamente as almofadas e as achou bem bonitas. Apertou levemente uma e sentiu uma maciez agradável. Havia almofadas de vários tamanhos, formas e cores. Gostou muito do tecido também, era bem macio. Como precisava de uma que lhe servisse de apoio ao sentar, escolheu a menor delas. Ela tinha o formado de um pequeno travesseiro e daria um ótimo apoio. Era muito macia mas oferecia uma leve resistência. Detestava almofada que afundava completamente ao ser precionada; não servia como apoio, só de enfeite e ele não queria uma almofada de enfeite.

Então foi para a fila do caixa, pagou e voltou para casa satisfeito, pois, era meio metido a anti-consumista e se tivera vontade de comprar algo, pelo menos comprou alguma coisa que lhe seria útil. Mais satisfeito ainda ficou quando chegou em casa , abriu o embrulho e foi examinar cuidadosamente a almofada que comprara. Gostou tanto da almofada que pensou em fazê-la de travesseiro, mas desistiu, pois, como travesseiro ninguém a veria e ela tinha um tecido tão bonito; ele transmitia uma sensação agradável de leveza e de simplicidade.

Foi então que teve a curiosidade de ler a etiqueta para saber quem havia fabricado e o lugar ou país de onde ela viera, pois, teve a intuição de que aquela almofada não tinha sido feita no Brasil. Quando leu as informações contidas na etiqueta, estremeceu. Sabem de onde viera aquela almofada tão especial? Da Índia. Tudo estava explicado. Todas as características que ele admirava naquele país estavam contidas naquela almofada e talvez a simplicidade foi a que mais chamou sua atenção sem ele “saber”.

Ficou então imaginando se a almofada teria sido feita por uma grande fábrica ou se por uma artesã ou artesão que realmente gostava do que fazia. Para ele parecia óbvio que era por estes. Só as mãos humanas, simples e de boa vontade, poderiam ter impresso naquela almofada tanta simplicidade e leveza.

Passou a criticar menos a Globalização. É claro que ela tinha aspectos negativos que mereciam as suas críticas, mas ele não queria pensar nisso agora. Agora só queria sentar apoiado naquela almofada que atravessara o Pacífico para lhe oferecer um pouco de paz e conforto e rever o filme , que ele já havia visto várias vezes, sobre a vida de Gandi.