Terçol
Preâmbulo:
O povo do interior – do qual, orgulho-me de ser oriundo – tem um atípico linguajar arraigado num regionalismo bem diferente.
O olho – o personagem deste conto – tem, por exemplo, o hipocorístico de “zoi”, assim como a orelha é “orêia”, e por aí vai. Então, e se por ventura, viesse cair um cisco no olho, gritávamos para a Dra. Mãe Oftalmologista pedindo o socorro:
-Mãe! Caiu um “trem no meu zoi!”
Aflita, a Mãe – eterna Mulher Maravilha – “assoprava o trem” fazendo-o descarrilar e sair do zoi da gente, levado que era pelo vendável e enxurradas lacrimais. Agora – e já livre do trem no zoi – partíamos para as brincadeiras da nossa infância querida.
Havia uma doença que, vez por outra, dava as caras, se tornando uma endemia que os interioranos chamavam “andaço”. Faz, todavia, sentido. Era uma disseminação que se propagava, “andando” ligeira a infectar a população.
O terçol era um destes “andaços incomodativos” e, para não fugir às regras, ele tinha vários hipocorísticos. O mais usado era o dordói que, também fazia sentido pelas dores que provoca nos zoios dos pacientes. Doía e ainda dói pra burro! Portanto, “dor e zoi” se ajuntaram para formar o famoso dordói – está explicado!
Extremamente conhecido, o terçol é um problema rodeado de mitos e verdades. Quem nunca ouviu falar que o terçol aparece quando alguém se recusa a dar comida para uma grávida? Então, o primeiro que aparecesse com o dordói era alvo das gozações dos demais que, ao coitado, diziam:
-É, né? Estava comendo alguma coisa gostosa, e negou-se a dar um pedaço para uma mulher grávida! Bem feito. Agora, fica aí, curtindo o dordói!
Parte I:
O Eu menino já não mais existe. Todavia, há cerca de uns seis anos passados, fui acometido pelo terçol. Consultei-me com um oftalmologista e tive o imaginado diagnóstico confirmado: estava com conhecido dordói, mas o médico teimava em dizer que era terçol! (Esses médicos de cidade grande estão por fora. O que tenho é dordói e ponto final – pensei entre um disfarçado sorriso interiorano!) O médico prescreveu uma série de medicamentos e cuidados para cuidar do terçol – o meu dordói. Graças à medicação recebida, fiquei curado.
Passados uns dois meses voltei a ser atacado pelo dordói. Retornei para o atendimento médico e recebi o mesmo e já sabido diagnóstico: -“Isso é um terçol!” – dissera-me! Nova receita e esperança de nova “cura” vieram.
Mais alguns meses passados, o terçol voltou a atacar-me. Volto ao médico que, desta feita, me encaminha para uma Clínica Dermatológica onde fui atendido por uma jovem e muito atenciosa Doutora!
-Boa tarde! Como vai o senhor, e em que posso ajudá-lo? – dissera-me!
Contei a ela os repetitivos casos do terçol, dos medicamentos que havia tomado e – retirando os óculos escuros que usava – mostrei-a o inchaço no meu zoinho. (Insisto em falar zoi e não nego as minhas origens! Humpf!)
A Doutora pega uma lupa – e tendo uma lâmpada presa à sua testa – vem ao meu encontro. Usando o polegar e o indicador, força a pálpebra com o fito de abrir o meu zoi e fixa o olhar bem lá no fundo. Em seguida, ela passeia a luz e lupa por todo o meu rosto, examinando-o nos mínimos detalhes. Satisfeita, imagino, por nada de anormal encontrar, ela enfia os dedos por entre os meus cabelos fustigando-os. Buscava encontrar algo que, imagino, viesse a ser o mote causador do terçol (Ops! O dordói!)! Em seguida pede-me que retire a camisa – retiro-a! Ela vai – com a indefectível lupa e luz – vasculhando milimetricamente cada milímetro da pele nas minhas costas. Terminado o exame no costado, ela vem à minha frente repetindo todo o rito feito nas minhas costas. Achando uma pinta, ela a aperta com a ponta dos dedos e pergunta: - “Doeu ao meu toque? – Não!... – respondo-a!
Nada encontrando, pergunta:
- O senhor está usando cueca?
- Sim, estou!..
- Tire a calça, os sapatos e meias! – ordenou-me!
Ela pega a cadeira na qual, antes, estava assentada e puxa-a para si fazendo-a deslizar-se sobre as roldanas. Em seguida pede-me (Pede coisa nenhuma, ordena!): coloque o seu pé direito sobre a minha perna. O pé é posto sobre a sua perna. Ela, armada com lâmpada e lente, examina nos mínimos detalhes cada cantinho do meu pé, inclusive, sob as unhas. O exame é repetido no pé esquerdo. Terminado o exame dos pés, ponho-me de pé! Ela, então, faz a cadeira girar sobres as suas roldanas e vai examinar as minhas coxas nas suas partes traseiras sem deixar escapar, sequer, um milímetro da minha pelada pele sob a sua arguta visão e luz da lâmpada. Sinto-a abaixando a minha cueca! As suas mãos abrem-me as nádegas numa frenética busca de uma provável causa que justificasse o terçol, como se naquele "olho/orifício anal" pudesse ser afetado pelo terçol! (Devo dizer aos meus leitores que, ao sentir as suas mãos arreganhando as minhas pregas, tive uma sensação estranha percorrendo o meu corpo!). Sinto as suas mãos levantando a minha cueca, tampando a minha bunda e um alívio tomando conta do meu corpo! Ainda se arrastando sobre a cadeira na qual estava assentada, ela vem para a minha frente, repetindo todo o minucioso exame feito no meu traseiro. Aliviado, pensei com os meus botões e, a eles, confidenciei: - Acho que os exames terminaram! Ledo engano, constato ao ouvi-la pedir-me (Ops!) mandar:
-Abaixe a sua cueca!
(Abro um parêntese para dizer ao meu público leitor que: - Médico e Anjo não têm gênero. São (todos eles) Anjos enviados por Deus para cuidarem dos nossos corpos, assim como o Filho Dele viera para cuidar das nossas almas. Daí chega-se à óbvia conclusão que, nestas ocasiões, todas as vergonhas que, em outras situações pudessem vir a serem sentidas, nestas horas, elas desaparecem.) Então – e resoluto, cumprindo a ordem – abaixei a cueca!
A Doutora – armada até os dentes com a sua lupa e lâmpada – começou a peregrinação no meu Parque de Diversões. Aproximando a cabeça, ela olhou o Bilau e afastou-o para a direita; fixou a lupa no dito cujo; suspendeu-o e afastou o saco escrotal para a direita e nada encontrou. (Abro mais um parêntese e peço desculpas. Mas, confesso: Quando ela pegou no Bilau eu fiquei em maus lençóis. O danadinho cismou de acordar e, se soer acontecesse, estaria frito. Contive-o com uma mensagem telepática: - Fica quietinho, ouviu? Se ouviu, não sei... mas, surtiu o efeito desejado: ele aquietou-se). A Doutora repetiu o exame, desta feita, no lado esquerdo sem deixar, sequer, um milímetro passar despercebido. Terminado o exame, sou por ela ordenado a me recompor, enquanto deslizava assentada em sua cadeira, até a mesa.
Epílogo:
Agora – e já devidamente vestido – ouço-a apresentar-me o diagnóstico:
-Senhor Altamiro, nada de anormal fora detectado nestes exames feitos. Não vejo motivos de pedir ao senhor nenhum exame laboratorial. O caso da repetição do terçol é inexplicável.
Ato seguinte, ela dá uma explicação científica sobre o terçol:
-O terçol é uma inflamação que ocorre ao redor dos olhos, quando algumas glândulas, Zeiss e Mol (presentes nas pálpebras) se entopem ou são infectadas por bactérias. A inflamação que acontece nas pálpebras é normalmente na região externa, porém, também pode surgir na glândula mais interna. Nesses casos, os sintomas são menos dolorosos, mas o problema só pode ser removido com cirurgia. Popularmente conhecido por terçol, o nome mais correto do problema é hordéolo.
Terçol, hordéolo, calázio, nomes diferentes e mesmos sintomas. Quase todas as lesões da pálpebra são popularmente consideradas terçóis, embora existam duas patologias diferentes, responsáveis por seu aparecimento: uma com infecção, o terçol, e a outra sem infecção, o calázio.
Vou recomendar ao senhor usar o Shampoo (Não vou falar o nome para não fazer publicidade gratuita.) próprio para as crianças, um Soro Fisiológico e um creme Protetor Solar. O senhor deverá lavar o rosto sem usar sabonete algum – somente o Shampoo! Em seguida, use o Soro e – se for se expor ao sol – faça uso do Protetor Solar em todo o rosto e, com bastante cuidado, em torno das pálpebras!
Ao me despedir, não me contive! Tive que dizer para ela:
- Doutora, lá no interior esse “trem tem o nome de dordói!”
Ela riu! Eu ri, sorri e tive que ressorir por todos os apertos passados. Agora – e com o Bilau sossegado, fiquei mais tranquilo na esperança de me livrar do incomodativo dordói!
Imagem: Google
O olho – o personagem deste conto – tem, por exemplo, o hipocorístico de “zoi”, assim como a orelha é “orêia”, e por aí vai. Então, e se por ventura, viesse cair um cisco no olho, gritávamos para a Dra. Mãe Oftalmologista pedindo o socorro:
-Mãe! Caiu um “trem no meu zoi!”
Aflita, a Mãe – eterna Mulher Maravilha – “assoprava o trem” fazendo-o descarrilar e sair do zoi da gente, levado que era pelo vendável e enxurradas lacrimais. Agora – e já livre do trem no zoi – partíamos para as brincadeiras da nossa infância querida.
Havia uma doença que, vez por outra, dava as caras, se tornando uma endemia que os interioranos chamavam “andaço”. Faz, todavia, sentido. Era uma disseminação que se propagava, “andando” ligeira a infectar a população.
O terçol era um destes “andaços incomodativos” e, para não fugir às regras, ele tinha vários hipocorísticos. O mais usado era o dordói que, também fazia sentido pelas dores que provoca nos zoios dos pacientes. Doía e ainda dói pra burro! Portanto, “dor e zoi” se ajuntaram para formar o famoso dordói – está explicado!
Extremamente conhecido, o terçol é um problema rodeado de mitos e verdades. Quem nunca ouviu falar que o terçol aparece quando alguém se recusa a dar comida para uma grávida? Então, o primeiro que aparecesse com o dordói era alvo das gozações dos demais que, ao coitado, diziam:
-É, né? Estava comendo alguma coisa gostosa, e negou-se a dar um pedaço para uma mulher grávida! Bem feito. Agora, fica aí, curtindo o dordói!
Parte I:
O Eu menino já não mais existe. Todavia, há cerca de uns seis anos passados, fui acometido pelo terçol. Consultei-me com um oftalmologista e tive o imaginado diagnóstico confirmado: estava com conhecido dordói, mas o médico teimava em dizer que era terçol! (Esses médicos de cidade grande estão por fora. O que tenho é dordói e ponto final – pensei entre um disfarçado sorriso interiorano!) O médico prescreveu uma série de medicamentos e cuidados para cuidar do terçol – o meu dordói. Graças à medicação recebida, fiquei curado.
Passados uns dois meses voltei a ser atacado pelo dordói. Retornei para o atendimento médico e recebi o mesmo e já sabido diagnóstico: -“Isso é um terçol!” – dissera-me! Nova receita e esperança de nova “cura” vieram.
Mais alguns meses passados, o terçol voltou a atacar-me. Volto ao médico que, desta feita, me encaminha para uma Clínica Dermatológica onde fui atendido por uma jovem e muito atenciosa Doutora!
-Boa tarde! Como vai o senhor, e em que posso ajudá-lo? – dissera-me!
Contei a ela os repetitivos casos do terçol, dos medicamentos que havia tomado e – retirando os óculos escuros que usava – mostrei-a o inchaço no meu zoinho. (Insisto em falar zoi e não nego as minhas origens! Humpf!)
A Doutora pega uma lupa – e tendo uma lâmpada presa à sua testa – vem ao meu encontro. Usando o polegar e o indicador, força a pálpebra com o fito de abrir o meu zoi e fixa o olhar bem lá no fundo. Em seguida, ela passeia a luz e lupa por todo o meu rosto, examinando-o nos mínimos detalhes. Satisfeita, imagino, por nada de anormal encontrar, ela enfia os dedos por entre os meus cabelos fustigando-os. Buscava encontrar algo que, imagino, viesse a ser o mote causador do terçol (Ops! O dordói!)! Em seguida pede-me que retire a camisa – retiro-a! Ela vai – com a indefectível lupa e luz – vasculhando milimetricamente cada milímetro da pele nas minhas costas. Terminado o exame no costado, ela vem à minha frente repetindo todo o rito feito nas minhas costas. Achando uma pinta, ela a aperta com a ponta dos dedos e pergunta: - “Doeu ao meu toque? – Não!... – respondo-a!
Nada encontrando, pergunta:
- O senhor está usando cueca?
- Sim, estou!..
- Tire a calça, os sapatos e meias! – ordenou-me!
Ela pega a cadeira na qual, antes, estava assentada e puxa-a para si fazendo-a deslizar-se sobre as roldanas. Em seguida pede-me (Pede coisa nenhuma, ordena!): coloque o seu pé direito sobre a minha perna. O pé é posto sobre a sua perna. Ela, armada com lâmpada e lente, examina nos mínimos detalhes cada cantinho do meu pé, inclusive, sob as unhas. O exame é repetido no pé esquerdo. Terminado o exame dos pés, ponho-me de pé! Ela, então, faz a cadeira girar sobres as suas roldanas e vai examinar as minhas coxas nas suas partes traseiras sem deixar escapar, sequer, um milímetro da minha pelada pele sob a sua arguta visão e luz da lâmpada. Sinto-a abaixando a minha cueca! As suas mãos abrem-me as nádegas numa frenética busca de uma provável causa que justificasse o terçol, como se naquele "olho/orifício anal" pudesse ser afetado pelo terçol! (Devo dizer aos meus leitores que, ao sentir as suas mãos arreganhando as minhas pregas, tive uma sensação estranha percorrendo o meu corpo!). Sinto as suas mãos levantando a minha cueca, tampando a minha bunda e um alívio tomando conta do meu corpo! Ainda se arrastando sobre a cadeira na qual estava assentada, ela vem para a minha frente, repetindo todo o minucioso exame feito no meu traseiro. Aliviado, pensei com os meus botões e, a eles, confidenciei: - Acho que os exames terminaram! Ledo engano, constato ao ouvi-la pedir-me (Ops!) mandar:
-Abaixe a sua cueca!
(Abro um parêntese para dizer ao meu público leitor que: - Médico e Anjo não têm gênero. São (todos eles) Anjos enviados por Deus para cuidarem dos nossos corpos, assim como o Filho Dele viera para cuidar das nossas almas. Daí chega-se à óbvia conclusão que, nestas ocasiões, todas as vergonhas que, em outras situações pudessem vir a serem sentidas, nestas horas, elas desaparecem.) Então – e resoluto, cumprindo a ordem – abaixei a cueca!
A Doutora – armada até os dentes com a sua lupa e lâmpada – começou a peregrinação no meu Parque de Diversões. Aproximando a cabeça, ela olhou o Bilau e afastou-o para a direita; fixou a lupa no dito cujo; suspendeu-o e afastou o saco escrotal para a direita e nada encontrou. (Abro mais um parêntese e peço desculpas. Mas, confesso: Quando ela pegou no Bilau eu fiquei em maus lençóis. O danadinho cismou de acordar e, se soer acontecesse, estaria frito. Contive-o com uma mensagem telepática: - Fica quietinho, ouviu? Se ouviu, não sei... mas, surtiu o efeito desejado: ele aquietou-se). A Doutora repetiu o exame, desta feita, no lado esquerdo sem deixar, sequer, um milímetro passar despercebido. Terminado o exame, sou por ela ordenado a me recompor, enquanto deslizava assentada em sua cadeira, até a mesa.
Epílogo:
Agora – e já devidamente vestido – ouço-a apresentar-me o diagnóstico:
-Senhor Altamiro, nada de anormal fora detectado nestes exames feitos. Não vejo motivos de pedir ao senhor nenhum exame laboratorial. O caso da repetição do terçol é inexplicável.
Ato seguinte, ela dá uma explicação científica sobre o terçol:
-O terçol é uma inflamação que ocorre ao redor dos olhos, quando algumas glândulas, Zeiss e Mol (presentes nas pálpebras) se entopem ou são infectadas por bactérias. A inflamação que acontece nas pálpebras é normalmente na região externa, porém, também pode surgir na glândula mais interna. Nesses casos, os sintomas são menos dolorosos, mas o problema só pode ser removido com cirurgia. Popularmente conhecido por terçol, o nome mais correto do problema é hordéolo.
Terçol, hordéolo, calázio, nomes diferentes e mesmos sintomas. Quase todas as lesões da pálpebra são popularmente consideradas terçóis, embora existam duas patologias diferentes, responsáveis por seu aparecimento: uma com infecção, o terçol, e a outra sem infecção, o calázio.
Vou recomendar ao senhor usar o Shampoo (Não vou falar o nome para não fazer publicidade gratuita.) próprio para as crianças, um Soro Fisiológico e um creme Protetor Solar. O senhor deverá lavar o rosto sem usar sabonete algum – somente o Shampoo! Em seguida, use o Soro e – se for se expor ao sol – faça uso do Protetor Solar em todo o rosto e, com bastante cuidado, em torno das pálpebras!
Ao me despedir, não me contive! Tive que dizer para ela:
- Doutora, lá no interior esse “trem tem o nome de dordói!”
Ela riu! Eu ri, sorri e tive que ressorir por todos os apertos passados. Agora – e com o Bilau sossegado, fiquei mais tranquilo na esperança de me livrar do incomodativo dordói!
Imagem: Google
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