CHICO MENDES
QUE NÃO NOS ESQUEÇAMOS DA LUTA DE CHICO MENDES
Nelson Marzullo Tangerini
Ainda há pouco convivíamos com um protetor de madeireiros e garimpeiros, que incentivou queimadas e devastações em todo o território brasileiro: aquele crápula que pedia, em 2020, para que o presidente deixasse a boiada passar e que está sendo investigado, inclusive, por suspeita de vender madeira para o exterior. .
Há anos, sucessivos governos, incluindo aí a ditadura militar, saudosa para os fascistas, espalham a paranoia de que estrangeiros estariam de olho na Amazônia. Enquanto isso, essa caterva mentirosa, que já espalhava suas fakenews, fechava os olhos para a ação dos poderosos, que, ao mesmo tempo, rasgavam terras indígenas com estradas suspeitas que só abriram o caminho para o holocausto indígena e para que os gananciosos madeireiros e garimpeiros destruíssem a floresta, em nome do lucro. Os índios, guardiões da floresta, tratados como preguiçosos, eram, pois, chamados de atrasados e empecilhos para o progresso da nação.
Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, líder seringueiro, também chamado de “Gandhi da Amazônia”, assim descreve, em carta, antes de sua morte certa, como as coisas funcionam não só na Amazônia, mas em todo o Brasil:
“Não quero flores no meu enterro, pois sei que irão arrancá-las da floresta. Quero apenas que o meu assassinato sirva para acabar com a impunidade dos jagunços, sob a proteção da Polícia Federal do Acre, que, desde 1975 para cá, já matou mais de 50 pessoas como eu, líderes seringueiros emprenhados em defender a floresta amazônica e fazer dela um exemplo de que é possível progredir sem destruir.
Adeus, foi um prazer. Vou para Xapuri ao encontro da morte, pois dela ninguém se livra, tenho certeza. Não sou fatalista, apenas realista. Já denunciei quem quer me matar e nenhuma providência foi ou será tomada. O delegado da PF, Mauro Spósito, me persegue não é de hoje. E não tenho dúvida de que os pistoleiros levarão a melhor por um motivo: mandou cassar meu porte de arma, sob a alegação de que tenho ligações com uma entidade ‘alienígena’ e comunizante. É a Fundação Ford, dos Estados Unidos. Vejam só”.
E, enfim, Chico Mendes, natural de Xapuri, Acre, onde nasceu, a 15 de dezembro de 1944, foi barbaramente assassinado, em 22 de dezembro de 1988. No primeiro julgamento, Darci, depois de ser preso, devido a exposição internacional, confessou o crime, que teve como mandante o seu pai, Darly.
Por muito tempo, os criminosos gozavam de liberdade - viajaram para o Paraná, saíam da prisão e tomavam chope no bar em frente -, até o Brasil do presidente José Sarney surgir na mídia internacional como conivente com a morte do ecologista.
Não durou muito tempo e Paul McCartney, ex Beatle, sensibilizado com o ocorrido, dedicou-lhe a canção “How many people”, incluída no disco “Flowers in the dirt”, lançado em 1989.
Além de chamar a atenção em relação ao esquecimento do nome e da luta de Chico Mendes, neste momento em que as florestas ardem, multas são “aliviadas”, o fascismo se aproveita da pandemia para deixar o gado passar, sugiro que as pessoas questionem essa proliferação de armas que, certamente, vão parar nas mãos de madeireiros, mineradores e garimpeiros, que, protegidos pelos fascistas de plantão, estarão livres para matar defensores das causas sociais: como ecologistas, lideranças indígenas, indigenistas, quilombolas, gays, mulheres e negros, pessoas que lutam por um Brasil mais humano.
O assassinato de Marielle Franco, vítima dessa corrida armamentista, que só beneficia os poderosos, é notícia em todo o mundo. É o retrato de um Brasil que não quer mudar. O criminoso e crescente fascismo que se espalha por todo o país, de sul a norte, se beneficia da impunidade, uma vez que encontra campo aberto para punir, com o rigor de suas leis obsoletas, os opositores do autoritarismo vigente.