ONDE ANDARÁ O... MADIANO !

ONDE ANDARÁ O... MADIANO !

"...não há raças superiores ou inferiores,

senão apenas TIPOS étnicos, com incli-

nações, culturas e tendências diversas (...)"

VIANNA MOOG, in "Bandeirantes e Pio-

neiros", pag. 50, edit. GLOBO, RS, 1957

Só lembrei do MADIANO ao ler o subtítulo dessa instigante obra de crítica social, toda aos pedaços, faltando metade e que analisa comparativamente as razões do sucesso americano em pouco mais de 300 anos e as de nossos sucessivos insucessos em quase (na época) 450 anos. Em poucas palavras -- num "resumo" irresponsável de minha parte -- a culpa é DO CARVÃO, do "clima" -- a geografia dos nossos solos, segundo êle -- e da RELIGIÃO... acredite quem quiser ! Tem pouco ou nada a ver com "superioridade RACIAL", a de um povo sobre o outro.

Tanto é que os "poderosos irmão do Norte" "quebraram a cara" quando imigraram para países com geografia, clima e Cultura diferentes do seu. Já as Religiões, seja luterana, anglicana, quaker, presbiteriana, -- protestantes, enfim -- pregam o progresso pessoal, de riqueza e abastança, como coisas agradáveis a Deus, com as bênçãos d'Êle, enquanto a vertente cristã romana nos faz "ter vergonha de ser ricos", condena o sucesso financeiro, a usura, "que nos leva ao Inferno".

Aconselho a leitura do imenso ensaio, se encontrarem por aí, mas seu subtítulo "Paralelo ENTRE DUAS CULTURAS" é que me trouxe à lembrança a figura do Madiano, jovem negro muito gentil, que representava uma Gravadora sulista aqui em Belém, por volta de 1985. No interior paraense, num radinho a pilha, passava eu manhãs, tardes e noites ouvindo a Rádio Marajoara AM tendo à frente o espetacular comunicador Everaldo Lobato. Programa variado e com breve espaço para Madiano mostrar as novidades musicais em voga no Sul, São Paulo principalmente, tudo sertanejo, "música caipira", como se dizia.

Resolvi procurá-lo... fui à Rádio com a cara e a coragem, queria divulgar a obra de um velhinho vigiense e "de quebra", algo meu. Levei 2 fitas cassette e dei azar: Madiano não viera naquela manhã, mas lá me deram um disquinho compacto com o rosto dele e a informação de que morava no bairro Cidade Nova, na rua WE 79. Só não me disseram que boa parte das 91 travessas daquela "cidade-dormitório" tinha quilômetro e meio.

Lá fui eu, batendo na porta das casas, a cada 40 ou 50 metros... meio quilômetro depois, uma menina reconheceu o cara na foto do disquinho e me levou até humilde morada, a tal "unidade sanitária", oficialmente com 7 metros de frente e 4,50 m de fundo, quarto e cozinha somente. Me recebeu sorridente, todo êle simpatia ! Madiano não se aborreceu... para ouvir as fitas recorreu ao amigo magérrimo, ali presente, um certo Ribamar José que foi de bicicleta buscar um rádio-gravador e o trouxe enrolado numa toalha, a área era bastante perigosa na época.

Madiano não aprovou as canções ouvidas e, pelas mãos do Destino, viria eu justamente para esse bairro ano e meio depois, onde completo 35 ANOS de moradia, vendo as transformações pela quais a região passou. Graças a MADIANO, "duas Culturas" musicais se (re)uniram e a música sertaneja é uma realidade hoje "na terra do Brega", mas êle "partiu" bem antes disso suceder !

"NATO" AZEVEDO (em 2/agosto 2021, 16hs)