Líquida

Pernas firmes, alma líquida.

Sinto urgência em me esconder, a vulnerabilidade coloca a faca da cobrança em meu pescoço, não quero me abrir ao mundo.

Não quero pois me contradigo, choro, me engano, me iludo, me despedaço… não consigo ser consistente.

Sou chuva que vai e vem intensa, aquela que ninguém espera e poucos desejam, certamente um inconveniente da vida. Molho e faço adoecer, faço viver apenas aquilo que é natural, o que tem que ser.

Ouço uma conversa em um bar, a mulher abre o coração à amiga ao dizer que tudo o que ela queria, ela não tem. Me vi nela e enxerguei também os meus defeitos, talvez eu queira muito e faça pouco, embora nem tudo que eu queria me caiba.

Às vezes paro de escrever por medo do que as palavras me dizem, a escrita me traduz, solidifica o que é vapor e abre meus poros, para que a tristeza possa se fazer presente.

Continuo não sabendo onde sou bem vinda, talvez em um terreno seco, talvez não em um terreno acidentado.

Deixo que o meu interior fique alagado, minha consciência flutua para fora de meu corpo e a minha alma se mistura à substancial vontade de não ser, tento não ouvir os sussurros de uma tempestade massiva que se forma no interior de meu cérebro, por quanto tempo poderei controlar o incontrolável?

Mãos trêmulas, cabeça encharcada.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 02/08/2021
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