A sinistra Olimpíada das panelas
Sempre detestei tudo que tem a ver com cozinha, lavar louça é meu martírio, a máquina que o “cumpanhero” da construção civil instalou aqui, nunca deu certo, ficou fora de nível e eu, com vontade de desnivelar a fuça dele. Nunca gostei de secretárias do lar, mesmo trabalhando fora, sempre me virei, claro que com a ajuda do meu “chefe”. Nêque chega a pandemia e ela, a pandemia, não me perdoou. Sem o "auxílio luxuoso" do chefe que está meio detonado, me ferrei direto, queima!!! É a época das provas, provas de resistência, de resiliência e Deus me testa a cada dia no “lava, lava, lava, hum! que cheirinho de limão”, odeio limão. É uma medalha lá no Japão e uma pilha de pratos, para mim, aqui em Porto Alegre. Puxei a minha mãe, tenho certeza, ela chorava, literalmente, para lavar a louça. Segui os mesmos passos, lavo tudo, mas quase que em lágrimas. Meu auxiliar favorito está impossibilitado de chegar à pia, claro que por minha culpa, minha máxima culpa. Planejei uma verdadeira trincheira para que a louça não fosse vista, a tal bancadona com muro, nem a SS encontraria a minha louça. Hoje, confesso, tive vontade de fazer arremesso de pratos, panelas, talheres e similares. Era um prato lavado, o cão gritando na janela da cozinha, as mangas dos blusões de lã escorregando, sim, eu disse blusões, porque são camadas de roupa, escorregavam também os óculos e, por fim, eu derrapava na bota “fake” que comprei na lojinha da praia. Eu escorregava toda, mas de raiva, puxava uma manga para cima e a outra já deslizava, tentava botar os óculos no lugar e os tristes engatavam no brinco. Sinceramente, a minha vontade era comer a esponja com sabão e tudo. Domingo lindo e eu naquela piscina de louças e talheres. Sempre uso um avental super legal com estamparia africana, dei só um nó e o infeliz resolveu desamarrar sozinho. Eu já não sabia se jogava os talheres na parede, se matava o cachorro que gritava para entrar, se puxava as mangas para cima, se soltava o cordão dos óculos que se agarrava no brinco ou amarrava o avental. Cheguei à conclusão que odeio aventais. É num momento destes que me agarro com a Nossa Senhora, Ela foi dona de casa e devia ter muita paciência, pedi clemência. Isto é meio mágico, creiam, mas parece que tudo se acalma, começo a falar: – Maria me ajuda! Maria me ajuda! dá certo, quem quiser tentar... Achei que tivesse cumprido a prova, estava até me sentido vencedora, num climão de prata, mas olhei para o fogão e vi umas três panelas com água e detergente em lista de espera. Esqueci a reza e pensei na modalidade arremesso de panelas, a Mãe de Deus me deu mais uma força e, banhada em lágrimas, cheguei ao ouro, lavei tudo, mas xingando a humanidade. Pódio nimim!!!