Falar ou se calar, eis a questão

Morar em apartamento tem dessas coisas. Você pensa que está em um bairro de periferia e que todos serão, mesmo que por educação, solícitos e responder um “bom dia”.

Às vezes penso eu ser muito “dada” e que nem todos o são. Mas, nem um “bom dia” quando se encontra a pessoa fechando as portas do seu lado? Você também usando as chaves, ato que requer uma certa parada. A dualidade nas ações me faz olhar fixamente o rapaz e, sem pretensão de nada, simplesmente um cumprimento. Mas ele, nada. Nem retribui o olhar. Daí veem aquelas coisas bobas de mulher, ah, a esposa deve ser ciumenta, ele deve ser tímido, e coisa e tal. Não. Ele não o faz nem por educação. É dele mesmo.

Ser “dado” e falar com estranhos é uma característica que muitas vezes é mal interpretada. Quantas vezes nós mulheres já não passamos por situações parecidas nas quais o fulano pensa que um sorriso é motivo de flerte? Claro, dadas as exceções, ser sorridente em um mundo tão tóxico pode parecer estranho. Já me senti um E.T.

Em uma sala de espera de um consultório médico ou dentário isso é presente também.

Todos pegam seu celular (o que já foi uma revista para ler) e vive-se nesse mundo digital sem se dar conta das pessoas que ali estão. Que vida terão? Seriam felizes? Estariam precisando de uma bom papo? Seriam carentes de amizade? Ou não. Estão como muitos entediados com a vida e nem querem falar para não serem invasivos? Não sei.

Por outro lado, incrível como algumas pessoas, em sua maioria mais idosas, gostam de um bom papo!

Quantas delas não são ouvidas ou ainda são destratadas por não acharem atraentes em suas necessidades ou querências?

Um desses dias, em um consultório – sempre me pergunto o porquê de marcarem horário e mesmo assim demorarem tanto para o atendimento – via um senhorzinho que ia e voltava ao bebedouro e não bebia nada ou nem esticava as mãos para fazê-lo. Não me contive e indaguei se ele precisava de alguma coisa. Ao que me respondeu, com timidez e em voz embargada:

- Sabe o que é? Sofro de mal de Parkinson e percebi que o porta-copos é meio complicado para se tirar o copo e desisti. A senhora estava ocupada e não quis incomodar.

“Que é isso? Não é incômodo algum. E não estava ocupada. Somente passava o tempo em redes sociais, já que aqui a gente fica horas às vezes. “

Para resumir o ensejo, descobri que o senhorzinho morava no mesmo prédio que eu – aquele onde quase ninguém se fala - e fiz amizade com ele ao acaso.

Depois desse dia, conheci seus filhos que o visitavam frequentemente, pois a esposa falecera há dois anos e ele até passou a ser meu confidente. E eu dele. Tantas histórias tivemos para contar!

Viver para aprender que generalizações nos privam de coisas boas. Reflexão de hoje.

Silvinhapoeta
Enviado por Silvinhapoeta em 01/08/2021
Código do texto: T7311945
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