FÉRIAS DE LAGARTO
Recebi muitas mensagens dos leitores nas últimas semanas. Estranharam a ausência de minhas crônicas no Facebook. Eis a razão: férias. Resolvi tirar férias da escrita. Mas férias no duro, pra valer. Férias de lagarto, como fazem lá no Sítio do Picapau. Me dei o julho inteiro para ficar “cochilando como lagarto ao sol!”. Fiquei à toa, sem fazer nada, feito Adão no paraíso, porém, agasalhado porque o frio está de doer os ossos... Bem, “sem fazer nada é um modo de dizer, pois que eles ficam fazendo uma coisa agradabilíssima: vivendo! Só isso. Gozando o prazer de viver...” Tomo emprestadas, mais uma vez, as palavras de Monteiro Lobato para resumir o que me propus neste mês.
O dileto leitor, se ainda não lagarteou na vida, não sabe o que está perdendo. Faça-o, já! Urgentemente. Não deixe para lagartear amanhã se pode lagartear hoje. Aceite o conselho de Dona Benta, a mais sábia das avós: “(...) a maior parte da vida nós a passamos entretidos em tantas coisas, a fazer isto e aquilo, a pular daqui para ali, que não temos tempo de gozar o prazer de viver. Vamos vivendo sem prestar atenção na vida e, portanto, sem gozar o prazer de viver à moda dos lagartos. Já repararam como os lagartos ficam horas e horas imóveis ao sol, de olhos fechados, vivendo, gozando o prazer de viver – só, sem mistura?”
Devemos aprender com os velhos sábios. Assim, nessas férias não escrevi nada, um bilhete sequer. Tranquei cadernos, canetas, lápis e papéis nas gavetas, suspendi as postagens no blog, preguei na porta o aviso: SÓ VOLTO NO COMEÇO DE AGOSTO e fui viver. Ignorei as ideias que o vento, volta e meia, me trazia e, tal como Ulisses no episódio das sereias, tapei os ouvidos para não sucumbir ao canto das Musas.
De papo para o ar, coloquei a leitura em dia e, sentado à varanda, apurei os sentidos para os cheiros e os sons da vida. Tentei, enfim, praticar os versos da canção: “A vida tem sons que pra gente ouvir/Precisa aprender a começar de novo”.
A pandemia, de certa forma, me obrigou a lagartear quase todo o ano passado e quase metade deste. Mas acho que lagartear por obrigação não conta. Para “gozar o prazer de viver” é preciso espontaneidade. As férias de julho vieram a calhar. Agora, mais leve, enveredo pelo segundo semestre. Os futuros textos atestarão se as férias foram frutíferas. Aguarde, leitor, e, qualquer coisa, não titubeie em me enviar sua mensagem. Só lhe peço que não envie corrente de oração, vídeos do Tik Tok e bobajada politico-partidária talkei.