A Verdadeira Vida!

Eu nunca pensei que algum dia teria coragem de fazer o que fiz naquele dia!

Eu já ouvira falar daquele galileu que, durante os últimos três anos percorrera toda a Palestina fazendo sinais e milagres fantásticos, além de se dedicar ao ensino dirigido às multidões que se juntavam a ele por onde quer que passasse.

Por algumas vezes eu quis ir até onde ele estava para ver e ouvir bem de perto as razões de tamanho sucesso no meio do povo que o reconhecia como Mestre e que desejava fazê-lo rei dos judeus. Mas, alguém poderia me perguntar: "Por que você não foi? O que o impediu de procurar pelo Mestre?

Bem, confesso que até aquele dia faltara-me coragem para tomar a iniciativa. Afinal, eu era um servidor público, designado pelo rei Herodes Antipas para chefiar e coordenar as ações de todos os demais servidores que trabalhavam na Coletoria. Eu era então, o chefe dos publicanos e os publicanos eram estigmatizados naqueles dias. Trabalhavam para o Império Romano coletando impostos dos próprios judeus e isso os tornava odiados pelos patrícios judeus que os consideravam traidores, ao tempo em que eram também desprezados pelos invasores que os consideravam subservientes a Roma.

Claro que, como em qualquer outra profissão, havia os que se aproveitavam da função para extorquir do povo e fazer fortuna. Foi exatamente por causa disso, e eu me lembro muito bem,  que João Batista, decapitado por Herodes atendendo a um capricho da própria filha, quando perguntado pelos soldados acerca de como deveriam  proceder após serem batizados, o profeta lhes dizia que eles deveriam se contentar com o próprio salário, sem explorar as pessoas em troca dos seus serviços.  Noutras palavras, João lhes dizia que não deveriam se aproveitar da sua função para extorquir dinheiro do povo.

Pessoalmente, a minha consciência estava tranquila em relação a isso! E, talvez exatamente por isso é que eu desejava ter um encontro com o tal Jesus de Nazaré, porém três coisas me impediam fortemente de ir até Ele.

Em primeiro lugar, eu tinha receio de ser condenado também por ele, pelo fato de ser um publicano. Eu sabia que todos me condenavam, principalmente porque eu adquirira riquezas com o meu trabalho honesto. Poucos sabiam que, na qualidade de chefe dos publicanos eu recebia, além do meu salário, uma porcentagem sobre tudo o que era arrecadado pelos demais publicanos. E isso era legal, oficializado pelo Império Romano e também pelo governador local. Mas, as pessoas me julgavam desonesto!

Em segundo lugar, eu tinha medo de perder a minha função junto a Herodes por causa do ciúme dos nossos líderes que perseguiam a Jesus a ponto de desejarem a sua morte. E, caso me vissem com ele, poderiam solicitar de Herodes o meu desligamento e afastamento da Coletoria. Como poderia eu me manter e à minha família, caso isto acontecesse?

Em terceiro lugar, a minha pequena estatura me impedia de me aproximar do Mestre, visto estar ele sempre rodeado de uma grande multidão. A estatura média de um judeu é de 1,65cm a 1,70cm e eu não passava dos 1,55cm portanto, diante de uma aglomeração eu jamais conseguiria "furar" a multidão em torno dEle.

Mas, eu estava decidido. Soube que um dos seus discípulos, o que se chamava Mateus também tinha sido coletor de impostos e deixara tudo para segui-Lo. Por que Ele me trataria com desprezo se Mateus, também um publicano fora aceito por Ele?

É certo que eu poderia perder o meu cargo de chefia na Coletoria. Mas, diante de tudo o que eu já tinha ouvido acerca de Jesus de Nazaré, valia a pena deixar tudo para me identificar com Ele!

E agora, como resolver o problema da minha pequena estatura?

Sabendo por onde Jesus haveria de passar, corri à frente da multidão e subi em uma figueira que ficava à beira do caminho. Por um momento pensei em me esconder entre os galhos e as folhas para não ser ridicularizado mas, foi apenas um momento passageiro, pois eu estava decidido a vê-lo mais de perto.

Você consegue imaginar como eu me senti quando o vi se aproximar da figueira e me dizer, chamando-me pelo nome: "Zaqueu, desce depressa, porque estou decidido a ir com você e entrar na sua casa."

A surpresa foi tão grande que eu pulei da árvore e quase caí nos Seus braços. Eu estava tão alegre que nem percebi que a multidão se afastara para me permitir ficar junto dEle! E lá fomos nós até a minha casa onde, depois de recebê-Lo pedi aos meus servos que preparassem uma ceia para nós.

Do lado de fora, vi alguns líderes judeus olhando para dentro da casa com um certo ar de desprezo. Soube, depois, que eles estavam condenando Jesus por estar sentado à mesa comigo, segundo eles, um desprezível traidor.

Foi quando o meu coração me despertou para uma realidade: Jesus de Nazaré me recebera em Seu próprio coração. Ele não exigiu nada de mim. Nem mesmo exigiu que eu deixasse de trabalhar para Roma. Ele simplesmente me aceitou exatamente como eu era!

Então eu disse: "Senhor, decidi doar metade da minha fortuna aos pobres e necessitados. E mais, se alguém se viu extorquido por mim, poderá me procurar e eu lhe devolverei quatro vezes mais o valor reclamado."

É claro que eu tinha uma boa consciência para dizer isso! Afinal, mesmo sendo um publicano, embora nunca tenha deixado de ser judeu, eu conhecia a Torá e nela está escrito: "Se alguém do seu povo empobrecer e não puder sustentar-se, ajudem-no!" Além disso, quem poderia em sã consciência, assumir o compromisso de devolver quatro vezes mais o valor arrecadado de alguém, se não soubesse que durante a vida toda havia agido com honestidade e justiça? É como alguém veio a afirmar e que se tornou sabedoria popular muitos anos depois: "Quem não deve, não teme!"

Infelizmente, também muito tempo depois os homens haveriam de se tornar egoístas e os seus olhos se fechariam para os seus semelhantes a ponto de se tornarem insensíveis às suas necessidades, e isto nada tem a ver com o caráter compassivo e misericordioso do Deus Eterno.

Muitos anos se passaram após  esses acontecimentos. Centenas de anos depois disso, ainda há pessoas que acreditam que eu era desonesto tendo feito fortuna utilizando-me da função pública para extorquir dinheiro do povo. Isso seria corrupção, e o meu entendimento acerca do Eterno é que nEle não há e nem pode haver corrupção.

Não obstante todo este meu conhecimento, o que importa mesmo é o que Jesus disse sobre mim assentado ali, à mesa naquele dia: "Hoje houve salvação nesta casa." E continuou dizendo a meu respeito que eu era também filho de Abraão, ou seja, eu estava disposto a crer nele como o meu Provedor mesmo entregando boa parte da minha fortuna aos necessitados, além da minha obediência ao que está registrado nas Escrituras.

Jesus mudou o meu interior. Ele mudou a minha vida. Ele transformou o meu coração e os meus valores. Ele me fez entender que a verdadeira Vida encontra-se firmada no Seu caráter santo, justo e compassivo, e que a verdadeira religião consiste em distribuir do Seu amor por onde eu passar.

Quer saber? Ele deseja fazer o mesmo com você!

Você estaria disposto a ir até Ele, ainda que isso te custasse a ridicularização por parte da multidão que nem sabe que você existe? Ou o desprezo dos que estão mais próximos?

Pense sobre isso! Ele quer estar com você, não importam as circunstâncias, porque Ele veio a este mundo para se encontrar com você e te dar a verdadeira Vida.

Deus te abençoe.

Pr. Oniel Prado

Inverno de 2021

01/08/2021

Brasília - DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 01/08/2021
Reeditado em 25/10/2021
Código do texto: T7311634
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