Um viés

Um jovem perguntava silenciosamente o que estaria fazendo ali naquela comunidade junto a ratos e ratazanas famintas à margem de esgotos, sedento de alimentos para o corpo e para a alma. Enquanto isso, lá no horizonte existem sonhos lindos para sonhar e alcançá-los. Sentiu-se instigado no propósito de viver como não existisse o hoje, mas só um evasivo amanhã. Mais ainda, percebeu que não estava para jogador de seleção brasileira, mas sim, para uma Fábrica de Parafusos. Sentiu na pele uma fera ferida.

Nesse contexto inefável, surge tal garoto com a certeza de que desejaria fazer fama por suas próprias mãos, uma vez que as pessoas só leriam o seu nome na etiqueta de seu macacão. Então, pega ele no lixo um spray de tinta, caminha muito e muito e escreve seu nome nos muros e no alto dos prédios. Nessa lambança toda, compete com os outros da sua estirpe para ver quem chega mais alto, quem escreve o nome no lugar mais difícil. Com isso, o dia esvai -se. A noite com ele é incomplacente. Dele não tem dó. Fim. Amanhã não tem outro porvir.

Dessa forma, é facinho, facinho assim. É mais ou menos isso e ponto. Todavia, ele nunca chegará ao topo da sociedade, nem se fosse pelo viés de outrora. Porém, seu nome sim. À dura pena, com pena conquistou seus sete palmos de fama na imensidão da fria metrópole. Mesmo com os pesares, a armadilha social segue, sem pestanejar.

Dulcinéia Oliveira de Paula Machado
Enviado por Ranon Machado em 31/07/2021
Reeditado em 18/09/2021
Código do texto: T7311045
Classificação de conteúdo: seguro