"Cringe" jamais
Ontem à noite, na Monsenhor Clóvis, fui ofendido por estrangeirismo. Verbalmente, felizmente. As câmeras de segurança viram tudo. Eu estava sentado e comportado, reunido com minhas três cervejas e vendo a sexta-feira passar. De repentemente, as minhas costas começaram a coçar. Tentei resolver o problema pessoalmente, mas não consegui alcançar a parte que me afligia. Decidi, então, pedi ajuda ao primeiro passante que avistei.
A pessoa mais próxima que me apareceu, primeiro, foi uma jovem senhora de aparente noventa anos e bem-disposta. Eu, aparentando normalidade, me levantei e lhe interrompi a marcha:
- Senhora, boa noite. A senhora pode me ajudar? As minhas costas estão coçando. A senhora poderia...
A jovem senhora não me deixou terminar a frase, e saiu muito alarmada com o pedido, sem dar atenção às minhas costas.
Fiquei naturalmente decepcionado, mas não desisti. Foi quando nasceu no asfalto da Monsenhor esperança, na pessoa daquela jovem de não sei precisar a idade. Ela vinha correndo em direção à padaria Wanessa, tangendo um cachorro de pulso, quando ela me viu e eu igualmente a vi. Foi uma emoção só.
- Moça! Ei, moça! Venha aqui, por favor!
Ela veio, e eu fui direto ao ponto, sem nem "Boa noite!" lhe dar.
- Tu pode me ajudar com minhas costas?
- O quê?
- Elas estão coçando ardentemente, e minhas mãos não as alcançam. Tu poderia...
- Olha... Mas veja...
E foi embora, devagarmente, na contramão de minhas costas. Fiquei decepcionadérrimo com a recusa da jovem, mais do que com a de sua antecessora, a jovem senhora. Desisti de pedir ajudar a terceiros para resolver problema que era meu, que só a mim dizia respeito. Senti, do alto de minha precoce embriedade, que poderia, apesar da aparente impossibilidade, dar conta da situação.
Retornei à mesa, com as costas ardendo, agora mais do que nunca. Sentei-me, pedi mais duas cervejas: uma para mim e a outra para a minha coceira nas costas. Ela tomou a dela muito rapidamente, eu recusei a minha. Eu lhe pedi outras. Ela tomou-as todas, completamente, e adormeceu um pouco, tempo suficiente para eu avistar aquele poste que, desde o princípio, estava ali, à nossa disposição, e que nós lhe ignorávamos.
Olhei-o com grande admiração. Senti-me contente, levantei-me depressa, cheguei, dada as cervejas, demasiadamente rápido aos seus pés. Era um poste alto, como são quase todos os postes, de mãos e pés feitos de cimento, excelentes para curar coceira nas costas.
Massageou minhas costas durante alguns segundos, e foi tempo bastante para vários passantes verem a acena, a de um homem, aparentemente normal e meio sóbrio, friccionando as costas em um poste de cimento armado. "Tão cringe!", falou-me um dos aeronautas. As câmeras da avenida Monsenhor e um par de outras máquinas viram tudo. E isto é prova de que posso até passar vergonha, ser brega, arcaico, obsoleto, mas "Cringe" jamais! "Cringe" é muito fora de moda.