NHÁ CHICA – O QUE É TUDO MESMO É O AMOR DE DEUS POR NÓS
Nas terras de Nhá Chica, lá nas bandas dos Campos do Horizonte, o canto da alvorada aconteceu, o galo cantou e o dia amanheceu, toda a bicharada atendeu. Nhá Chica se levanta vagarosamente, a idade avançada assim lhe impõe. Não demora e com as palhas secas de milho e as grimpas de pinheiro que já havia preparado no dia anterior logo têm fogo no jipão. Com a caneca, encheu de água a velha chaleira de ferro.
Nhá Chica liga o rádio que fica na prateleira da parede da cozinha, gosta de ouvir logo cedo umas boas modas. Após a morte de seu esposo, Nhõ Bastião, o rádio passou a ser seu companheiro de “conversas”. Com a água já quente, Nhá Chica prepara o chimarrão, logo está sorvendo o mate amargo, não demora e já se sente revigorada, e como faz todos os dias, vai à frente do seu rancho acompanhada de seu inseparável cão. Seus os olhos percorrem toda a propriedade, são terras planas, campo nativo, seu olhar é distanciado. Ela observa sua criação pastando preguiçosamente, vez que outra ouve o gado berrando. O quero-quero canta freneticamente como que cumprimentando o belo dia de Sol. Ela sempre se orgulhou de juntamente com Nhõ Bastião terem mantido a propriedade na forma que Deus concedeu. Quando lhe perguntam o porquê de não arrendar o campo para que se faça lavoura, para que obtenha mais lucro, mais dinheiro, ela despista, tira de rumo à conversa. No entanto, para os mais chegados, reservadamente diz: “Não vou desmanchar o campo nativo, aquilo que a natureza fez. Nele o gado se alimenta e se automedica, tem muitas ervas que a eles fazem bem. Além do mais, não necessito de dinheiro, tenho aqui o necessário para viver".
Depois do olhar observador, Nhá Chica retorna a cozinha e se senta ao lado do jipão quando escuta no rádio: “O Agro é Tudo”. Ela de pronto responde: “É importante, mas não é tudo. Tudo é o amor que eu sempre senti pelo meu Nhõ Bastião. Tudo é o amor que eu sinto por esta terra. Tudo é a solidariedade. Mas o que é tudo mesmo é o amor de Deus por nós". Nhá Chica continuou a sorver seu chimarrão e a ele se confidenciar.