Favor não é obrigação

A habilidade quando convém é uma das coisas que mais me causam raiva.

Juro. Explico.

Tenho um primo que se dá muito mal em inglês (não só inglês, mas outras matérias também) mas passa o dia inteiro no videogame onde as falas são em: inglês.

Ele nunca se tocou que dá pra estudar ou pelo menos aprender enquanto joga? Ou estudar e ver no jogo o que se aplica naquilo que aprende? Não. Por quê? Porque não convém. Por preguiça. Entende?

Tenho uma amiga que diz que não tem tempo para fazer a aula on-line comigo do funcional mas fica três horas vendo série no streaming. Sacou?

Prioridades o nome. Sabotagem também.

Calma, não to falando aqui que não me saboto, que não tenho preguiça mas nesse contexto eu acho um abuso fazer isso comigo mesma. Se tenho acesso a como fazer, faço. É simples.

Faço esse jogo comigo mesma todos os dias: "Poxa se hoje fosse pra ir no Brás comprar blusas eu levantaria cedo e faria. Por que não levanto cedo pra fazer outra x coisa? Poxa, fulana vai casar daqui a três meses, então tenho que fazer a dieta a finco, comer direitinho, cuidar da minha pele, pra quando chegar o dia eu estar linda e plena. Por que não me cuidar agora simplesmente por me amar? E se no dia me der um piriri e assim mesmo uns quilos mais magra e uma pele melhor não serão válidos pra me salvar de ficar trancada no banheiro, né?"

Dito isso, vamos aos que estou acusando e desabafando nesse texto.

Eu tinha uma colega que ficava até altas horas da noite assistindo aquela gaiola humana que suga a inteligência alheia, e no outro dia reclamava que não tinha tempo de ver uma reunião de uma hora e meia pois era chato. Mas aí que tá, a reunião paga as contas dela, já o vencedor da gaiola humana fica com o dinheiro só pra ele.

Uma vez ela disse que quase caiu da sacada para não peder o famoso "murão" (vocês entenderam) e usou a internet do celular pra ver o fim. Mas no outro dia, zerada de dados e sem banda larga, perdeu a data de matrícula do filho pois a professora mandou por mensagem e e-mail.

Ela em momento algum pensou em ir na casa de alguém, ou renovar um pacote de dados, ou mesmo no serviço, olhar rapidinho o e-mail pessoal.

Triste.

O que quero dizer? Que as prioridades são seletivas, óbvio, mas tem coisa que não tem como abrir mão e uma vez que você tem acesso, repito, quando se tem acesso, é um cúmulo deixar esvair.

Minha tia-avó ( de consideração, não tenho nada sanguíneo dela) estava reclusa no interior e voltou (para a casa dela, no bairro mais nobre da cidade) para tomar a primeira dose da vacina. Eu compadecida pois ela perdeu meu tio faz pouco tempo, fui lá e agendei a vacina para ela. Só que essa tia-avó tem 5 filhos e 8 netos, todos bem estruturados e com acesso à internet. Pois bem, depois que caiu minha ficha de "trouxa", afinal não era minha responsabilidade, compreendi que a segunda dose ficasse a cargo dos parentes diretos orientá-la para tal feito, pois como já disse: todos são bem estruturados e têm acesso a internet. Certo? Claro que não! Agora ficam me perguntando quando ela tem que tomar e onde, o qual e não sei mais o quê... Oi? Tá no cartão, se perdeu o cartão (socorro!), veja no site da prefeitura, ligue num posto de saúde, se virem. Ah mas você que agendou... Amigos, eu fiz um FAVOR e FAVOR NÃO É OBRIGAÇÃO.

Qual a dificuldade de juntar lé com cré? Sério que nesse grupo de 13 pessoas não tem uma alma vivente para consultar a agenda da velha tia rica? E pior! Não me pedem nem um por favor e sim "veja lá quando é pra levar". Não, não vejo. Se virem, meu papel de trouxa foi pro triturador faz tempo.

Afinal se vocês em conjunto conseguem organizar uma viagem para Disney, Roma, e até Austrália, acredito que consigam marcar numa UBS a segunda dose.

Habilidade quando convém é osso meus amigos, é osso.

Têia Agridoce
Enviado por Têia Agridoce em 28/07/2021
Reeditado em 28/07/2021
Código do texto: T7309064
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