Relembrando o trem interiorano.
Nestes últimos vinte dias, uma onda de inércia mental apoderou-se de mim, a ponto de não ter vontade de sentar-me ao computador e aguardar a inspiração. Ela até agora não reapareceu, mesmo de forma paliativa. Várias tentativas foram feitas, todas infrutíferas. Pouquíssimas vezes, durante esse longo período como redator profissional, ocorreu semelhante acontecimento, fato raro e considerado por mim como uma aberração. Todas as matérias publicadas nesse período já estavam prontas anteriormente.
Então, cansado de esperar a necessária garra para escrever, uma vez que não tenho o hábito de rascunhar ou teclar desprovido de vontade, decidi que hoje eu enfrentaria a situação, com persistência. Li de cabo a rabo, em sua íntegra, o exemplar da última revista VEJA, da qual sou assinante, e não obtive êxito, pois os casos políticos, policiais e mesmo os sociais estão, momentaneamente, causando-me repulsa. Tampouco a influência da magnífica escritora Lya Luft concedeu-me a imprescindível sensibilidade, como de costume. O colunista Diogo Mainardi, pelo qual dispenso respeito não corresponde ao atendimento de meus ideais éticos, na condição de escritor. No campo literário falta-me também a concentração para assimilar dados norteadores do contexto. Acreditem, os dias estão sendo obscuros no meu campo da escrita.
No entanto, a partir do exato instante em que inicio este parágrafo, algo surgiu, como um bólido em meu pensamento, isto é, lembranças de vivências não muito remotas marcando-me profundamente e ensejando escrever a respeito.
Reparem! Graças a DEUS, ela, a inspiração, está regressando paulatinamente.
Por volta da década de 1970, durante as férias escolares dos meus filhos, as quais nunca coincidiam com as minhas, eu reservava as dependências da Colônia de Férias dos Telefônicos, atualmente terceirizada, situada em Francisco Fragoso, distrito de Miguel Pereira e, para lá, levava a família, com a qual estaria junto apenas no final de semana. Como tinha que regressar ao serviço, eu os levava de carro até a estação ferroviária de Japeri, onde a minha esposa e os dois filhos (na época o caçula ainda não havia nascido ) pegavam o extinto trem conhecido como Maria Fumaça, embora já fosse puxado por possante máquina movida a óleo diesel. Segundo opiniões de vários amigos e dos próprios familiares, ratificado por mim, em uma oportuna viagem, o trajeto, que durava cerca de duas horas, era gratificante e muito bonito, em decorrência da mata verde e diversas fazendas, acrescido de algumas cachoeiras localizadas nas encostas montanhosas, formando um quadro paisagístico idêntico ao visto no cinema. Ainda havia o aspecto pitoresco, pois no percurso deparávamos com situações inusitadas como a presença de suínos, cabras, cestos com frangos, etc...
Lamentavelmente, entretanto, a Rede Ferroviária Federal desativou a referida linha férrea, que deixou de ser reativada por não haver o interesse político de alguns prefeitos municipais, apesar do esforço de vários segmentos da sociedade local.