Pequenas histórias 242
Os passos rasgam
Os passos rasgam o espaço num ritmo compassado, onde os pés defloram o que adiante se apresenta como obstáculos.
Nada o impedirá de seguir. Sabe que não há nada a impedir seus passos compassados num ritmo apressado. Não. Não há nada que o impedirá.
No entanto, alguma coisa indefinida nos seus passos, traduz a angustia do século de vivência humanitário. Não é culpa dele se o mundo é podre e está indo a bancarrota. Não, não é culpa dele.
Talvez, seja anormalidade dos seus sentimentos jogados ao léu boêmio sem ter outra coisa além do copo de uísque. Onde estão as mulheres que o acompanhavam? Onde estão os homens rudes na violência urbana a provocar seus devaneios poéticos intraduzíveis?
É! Onde estão? Perdeu o carisma das palavras. Perdeu as palavras num carismático caçar infrutífero.
Por isso se recolhe. Todas as noites antes que as estrelas brilhem no céu cinza da alma, se recolhe no aconchego dos sonhos em lençóis banhados de perfume artificial.
E, sonha. Sonha com os amigos descobridores de aventuras orgiasticas onde, cada um, terminava na cadeia da ressaca infernal.
Onde estão todos? Onde está ela? Que me acompanhava alucinado bebendo minhas palavras. Captava silaba por silaba em seu interior agasalhando falicamente o aprendizado que a ela transmitia.
Onde estão todos? Sumiram no alcoólico diário de suas vidas amargurando as saudades deixadas em cada peito, em cada copo deflorado nas madrugadas de sexo e rock´n roll.
Fecho-me nas palavras que ainda há para escrever.