Tecla SAP - Gotículas de Escolha

Uma coisa que me arrependo bastante foi minha escolha profissional. Nossa que novidade né, só a Teia é infeliz na escolha dela, tadinha. Calma, eu sei que não estou só. Também sei de toda a cultura que a "vida começa quando você quiser e ninguém vai te julgar mudar de rota aos 30...(e o Pedro Bial declamando filtro solar ao fundo) " etc.

O que faço não direi pois é muito específico e sei lá, melhor deixar o mistério de quem eu sou, nem mesmo sabendo de quem de fato sou.

Só sei que quando falo, muita gente fica "nossa que bosta". O que me dá um mérito é que falo inglês e mesmo nunca tendo saído do país, me viro muito bem quando tenho que conversar, ensinar, orientar alguém que fala o idioma de Bruce Springsteen.

Mas aí veio a pandemia e o caos começa. Tenho muito orgulho de dizer que sou uma das poucas pessoas que não pisou o pé fora de casa a não ser para resolver assuntos de emergência pessoal ou para comprar alimentos. Ainda sigo essa regra e só saio para devolver algo aos Correios e comprar meus mantimentos. Já tomei a primeira dose da minha vacina, meu marido tomou dose única e estamos enclausurados até onde der. Nossa mente, nossa escolha.

Nesse ócio do desespero começo a ver novas formas de ganhar meu sustento e começo a ver que de fato tirando inglês, não sou muito boa pra outras coisas. O mercado tá mais que congelado, não se iluda com o Linkedin. Ah e não, não me vejo como professora.

Pra tirar a neura, começo a fazer faxina (sou dessas) e me vejo pensando e viver disso também: "Poxa, sou tão limpinha. E sou engraçada, e se eu fizer stand-up? Mas aff sou tímida demais. Ah eu escrevo mas esse mercado é muito longíquo e tenho o meu Recanto. Puxa vida por que meu marido nunca ajuda nos afazeres de casa? Ele mora aqui e tenho que eu, também residente da casa, avisar que a casa tá suja?! Mas não gosto de limpar a casa com gente, me irrita. Eita, misturei cloro demais, tá ardido isso aqui... Dá dinheiro bolo de pote?" Minha cabeça viaja legal.

E se eu tivesse ido melhor no ENEM?

E se tivesse enfrentado meu pai para cursar tal curso?

E se eu tivesse desistido no curso e insistido em algo mais interessante?

E se eu falasse a verdade para fulano, seríamos amigos?

E se eu tivesse mais coragem, seria quem sou?

E se eu aceitasse meu corpo?

Meu jeito?

Morresse com todos meus fantasmas e pesadelos?

E se eu acreditasse com um pingo de esperança em mim?

Escolhas e escolhas... Minha terapeuta falou para eu fazer uma mapa mental mas a ansiedade deixa? Quando vejo, estou me criticando pois nem o quadradinho do mapa sei desenhar direito. E se eu... E se eu nada, me deito e vejo mais algum seriado bobo da Netflix para desafogar a mente. Ah, sem dublagem e sem legenda.

Têia Agridoce
Enviado por Têia Agridoce em 26/07/2021
Código do texto: T7307768
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