Ninguém é feliz tendo amado uma vez
Rock'n Roll. Era isso que eu queria gostar. E comecei a consumir os rocks nacionais e internacionais forçadamente para entrar nessa tribo. Isso foi há 20 anos atrás, no auge das minhas buscas por descobertas e necessidade de pertencer a um grupo. Atualmente tudo é muito mais claro, muitas músicas ainda sei cantar, mas perdi a paixão. Fiquei mais eclético nesse tempo. Mas ouvir Raul Seixas, muito mais que me deixar extasiado com a música em si, fico mais com a minha memória que voa até àqueles tempos de descobertas.
Uma das músicas que lembro com frequência, muito mais por uma frase que pela música, é em "o medo da chuva", onde a frase que ecoará na minha vida eternamente é "ninguém neste mundo é feliz tendo amado uma vez".
Deixando o assunto rock'n roll de lado e resgatando um pouco da minha vida, digo que embora esse trecho seja um pouco exagerado, até porque é difícil mensurar ao certo o que é felicidade e o que não é, posso afirmar que um amor intenso sempre deixará marcas ou até uma lacuna impreenchível na sua vida.
Eu que pensava que o tempo era remédio para quaisquer tipos de dores, descobri que não é. Quando amamos alguém de verdade e perdemos esse alguém, independente da culpa, fica um vazio e uma volta frequente ao passado, mesmo que às vezes você proiba de reviver o passado.
E não é outra pessoa, não são outras felicidades, não é uma história completamente inovadora na sua vida que irá fazer você esquecer. Nada vai acabar com essa lacuna na sua vida, e é capaz que você leve as melhores memórias e talvez os piores arrependimentos para o seu caixão.
A vida não é um conto de fadas. Na verdade, a vida é mais cruel do que a pintamos. E viver presume necessariamente, fazer escolhas, abrir mão de coisas que te preenchem, ficar na dúvida se você ama ou se está apenas suprindo um ego ou uma cura para a própria carência, ficar inúmeras vezes na dúvida quanto aos seus caminhos e, por fim, cometer erros aos montes achando que está fazendo a coisa certa. Mesmo que não admitamos que erramos, no fundo sabemos que erramos.
E Raul Seixas errou ao dizer que não podemos ser felizes ao amarmos uma vez, é claro que podemos. Porque felicidade não é um adjetivo imutável da vida, é um adjetivo mutável de momentos. E sorriremos, amaremos, gargalharemos, tudo como sempre o fizemos. A questão é que sempre que retomarmos àquela lacuna da nossa vida, baterá um momento, mesmo que breve de tristeza ou talvez de questionamentos: - Como teria sido se fosse diferente?
O tempo não regride, apenas avança. Os erros ficam nessa linha, cabe a nós concertar, ignorar ou reforçar, mas já estão cometidos como uma mancha que não pode ser lavada.
Volto novamente a minha infância. Ouvindo pela primeira vez Raul Seixas, curtindo apenas as frases soltas de suas músicas, sem fazerem sentido para uma cabeça tão pouco vivida até então. Não tinha vivido sequer nenhum romance na vida. E tudo era tão simples.
Mas o tempo nos exige que vivenciemos erros, acertos, dúvidas, incompreensões. E é a incompreensão que vivo agora nesse momento.