Feliz Aniversário
Ela gostava de ser adolescente, mas ansiava completar 18 anos de idade. Só seria adulta de fato, quando fizesse dezoito anos, assim pensava. Diferente, não era como os outros jovens que em algum momento da vida vivem a rebeldia, suas ações eram demasiadamente calculadas e nunca, jamais agiu por impulso..
Na verdade, aquela menina era mais adulta do que muitos. Articulava suas ações de forma meticulosa e não tomava grandes decisões quando estava feliz ou triste. Queria chegar à fase mais ativa e produtiva da vida, pois pensava que o mundo se abriria para ela. Contou os dias… anos… Até que o tão esperado momento chegou.
Junto aos familiares e amigos comemorou o incrível e mais aguardado momento de sua vida e ali mesmo, na festa, considerou- se adulta. A sensação que ela sentiu foi a mesma de um calouro no primeiro dia de aula da faculdade. Nervosa e receosa do que lhe aguardava suspirou, não de tristeza, foi um suspiro de contentamento por ter conseguido tão sublime feito.
As estações mudaram, os anos se passaram, muita coisa mudou: Aquela euforia de subir mais uma casa na numeração de sua vida não existe mais. ela se tornou madura e seu objetivo diário é a intensidade.
E hoje, 13 anos depois de atingir o ápice da juventude, na visão antiga dela mesma, se esqueceu do seu próprio aniversário. No dia anterior, trabalhou com intensidade para não acumular demanda; sorriu com aqueles que lhe querem bem; ficou só consigo mesma por algum tempo refletindo sobre a vida; assistiu seus animes preferidos e altas horas da noite dormiu. Não lembrou que completaria mais um.
Estava em um sonho calmo e sereno. Deitada em uma rede de cambraia bordada ela estava. Alguém a balançava de um lado para o outro entoando uma canção qualquer, seus pés tocaram levemente o chão e por um minuto, ela pensou estar sonhando, de súbito momento, foi embalada pela voz daquele que cantava e ela esqueceu-se completamente do que havia pensado a poucos instantes.
Aos poucos, sussurros e passos invadiram o quarto onde plenamente ela dormia, seu sono embalado pelo sonho transpareceu calmaria em sua face. Risos sutis e um cheiro de felicidade envolveu o quarto. O grupo entoou a canção conhecida e enquanto cantavam os sorrisos sinceros adornavam o momento em que a esquecida aniversariante abriu os olhos.
Espantou-se ao ver todos. Na cama, o bolo e a cesta de café da manhã recheada foram cuidadosamente colocados. Foi então que ela se deu conta do seu trigésimo primeiro aniversário. Feliz aniversário! entoou novamente o grupo. Enquanto alguns admiravam a serenidade dela, o irmão e os primos a zoaram, sorrisos largos surgiram assim como surgiam os presentes. Ela lembrou que sua caneta à século XVIII deveria estar ali entre os presentes e sorriu. Sorriu, pois estava feliz, sorriu porque ela é feliz.
— Faça um pedido! — Ordenou o grupo.
Ela assentiu com a cabeça, fechou os olhos, mas nada pediu, já tinha tudo o que precisava, respirou fundo e feliz apagou as velinhas.