Vai faltar milho na praça
Minha infância passei na zona rural aqui no estado do Paraná, e, minha família vivia da lida do campo, regime meeiro e na criação de alguns animais domésticos.
_“Pro gasto", diziam. Não gostava de ver a matança de frangos, porcos, gado, cabritos. Achava horroroso, triste demais.
_Mariquinha, o pessoal jocosamente me chamava. Era da minha natureza, não aceitava. Não passava pela minha cabeça tratar o bichinho e depois matá-lo. Quando ocorria o abate, era um verdadeiro evento. Os preparativos aconteciam no dia anterior; panelas, tachos, lenha, facas afiadas, martelo, sim martelo era extremamente útil, batia-se com o martelo no centro da cabeça e depois sangrava o animalzinho. A dissimulação era danosa, os animais eram hipnotizados, iludidos, enganados ao extremo; levava-se o milho, chamava-os como se fossem alimentá-los, conquistava-se pela conversa mole, escolhia-se um, e arrebatava-o. Se o bicho era grande, amarrava seus pés e continuava o sacrifício. O mais doloroso era ver os outros rosnarem algum tempo e em seguida começar a comer o milho, a ração, voltar a pastar, fuçar por todo lado com a maior naturalidade, seguir a vida como se nada tivesse acontecido. As vezes não resistia, e perguntava:
“Eles não pensam? E a resposta era muito singular;
“Não raciocinam é da natureza deles ser assim”. Ao que insistia
_" Todos os animais são assim"?
"Não claro que não, os homens são diferentes"!
Hoje constato que não é bem assim, os animais são parecidos nas atitudes, comportamentos, estratégias e os homens não são tão diferentes, nem tão dissimulados quanto, muito menos empáticos e pior ainda vai faltar milho na próxima safra, como será?