D e s f a l q u e
DESCULPEM mas não tratar do Centrão, vacinas e nem olimpíadas. Estou saturado dessa pauta ininterrupta. Pardón, em francês fica mais chique.
Parece que foio ontem, mas faz tanto tempo, eu ainda era menino e usava calças curtas. Era num tempo que as pessoas quando falavam num ato ilícito perpetrado por um funcionário diziam baixinho: -Foi d-e-s-f-a-l-q-u-e, cadenciado, não se pronunciava ainda o popular corrupção. E ladrão era o que entrava numa casa por uma corda no telhado para roubar. Orico ou figurão que prevaricava (palavra horrível) era tido como sabido. As pessoas cochichavam sobre malfeitos. Não se fazia reclame disso.O único ato ilícito que era comentado em voz alta era quando oleiteiro colocava água no leite.
Acasa do meu pai era quase vizinha da do coletor federal, eram amigos de infância. Esse coletor era um homem muito bondoso e educado, mas a sua esposa gostava degastar muito e o marido vivia endividado, apesar de ganhar bem. Um certo dia ela foi além da contae comprou vários objetos na capital.E o coitado teria que pagara dívida numa quinta-feira, foi ao banco fazer um empréstimo. O banco concedeu, mas como a quantia era alta precisava autorização da matriz, o dinheiro só sairia na segunda feira.Aperreado o coletor lançou mão do dinheiro da repartição no cofre. Só que de azar.Na sexta-feira chegou uma auditoria e constataram o desfalque.Envergonhado e desesperado o coletor foi pra casa e deu um tiro na cabeça. Quando se ouviu o tiro e gritos da família várias essoas foram ao local,dentre elas meu pai.Havia muito sangue, mas a bala atravessou de um lado e saiu do outro da cabeça do coletor. Ainda estava vivo. Um milagre. Levaram-no pra Recife num automóvel. Ficou bom,mas com sequelas,sem se mover de um lado,foi demitido e passou alguns meses preso.Nunca mais botou os pés na nossa cidade. Nao deixou a muher, mas essanunca mais fez grandess compras. Inté.