Ferrenha batalha
A sensatez encontra-se em célere e preocupante desuso. A moral virou chacota; tornou-se brega, cafonice. A ética ficou restrita aos tolos, conservadores e retrógrados. A justiça caminha sobre a prancha, empurrada por pontiagudas espadas dos corsários que tomaram a nau “Brasil” e içaram a bandeira negra - que tremula ao sabor de ventos hediondos - no mastro da embarcação.
O poderio midiático e jornalístico, tentáculo da facção, temerosos com a verdade, aliaram-se aos tiranos.
Poderoso órgão que deveria guarnecer os valores supracitados, também se mancomunou com os verdugos.
O céu roxeou, tenebrosa tempestade se formou sobre a nação. Escuridão.
Ao fundo surgiu um lampejo. Me aproximei para verificar de onde fluía aquela luminosidade. Vinha de um homem caucasiano de meia idade, que vestia camisa verde e amarela. Aquele rosto não me era estranho, logo o reconheci e de imediato me veio em mente à famosa hashtag “elenão”.
De fato ele me decepcionou em alguns pontos. Algumas de suas posturas, de suas decisões não me agradavam, mas bastou olhar ao redor para constatar que só ele possuía luz, ela emanava de seu corpo como se tivesse sido banhado com fluido neon. Ao redor, diversas silhuetas de velhacos. Cobertos com paletós e gravatas eles transmitiam sorrisos cínicos e esfregavam as mãos.
– O que são essas criaturas a sua volta? Perguntei espantado.
– Nosferatus – respondeu o Messias olhando-me nos olhos.
Observei que ele levava alguns objetos em suas mãos: Marreta, crucifixo, estaca de madeira e a constituição.
– Posso contar contigo Marco? Perguntou-me ele de supetão.
Titubeei por um instante, mas diante daquele quadro dantesco, mesmo discordando de algumas de suas posições eu não tive dúvida: “Em 2022 meu voto será novamente do capitão.”