Crônicas Maçônicas I - Maçonaria e Política, uma visão crítica.
A política é inerente à condição humana, por consequência, independem os impedimentos, logo, acredito que poderíamos sim, de maneira convencional e sem valores ideológicos, debatê-la em nosso meio, não podemos nos abster.
O Capitulo II, Seção I, Art. 22, § 3º, de nossa Constituição, estabelece o seguinte: “a Grande Loja adota, em sua ação filosófica, ritualística e social, os Landmarks de Machey, (sic), (Albert Mackey), e a Constituição de Anderson, (James Anderson)”. Entre os 25 Landmarks, não há menção contrária ao debate político em nosso meio. Todavia, na Constituição de Anderson, na 6ª Obrigação: (Conduta - Item 2º, Dever a Ser Observado), especifica: “... Não se devem levar a essas reuniões ódios privados, nem motivo algum de discórdia e, sobretudo, deve-se evitar discussões sobre religião e política...”.
Há de se considerar uma interação, entre nossa Constituição, (Título III, Capitulo I, Art. 20º, § 4º, alínea “C”: “promover a filantropia e a defesa dos direitos humanos”), com as responsabilidades civis estabelecidas na Constituição Federal Brasileira, (Título II, Capitulo I, Art. 5º, (Cláusula Pétrea): “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...”).
Constatada a correlação humanista, em ambas as Constituições, posso engendrar em minha assertiva. E ela deriva da própria palavra, “política”, originária de duas palavras gregas, “polis” e “tikós”, (politikós) a primeira tem significado para “cidade/governo”, a segunda um termo para, “bem comum”, fazendo sentido completo para: “governo da cidade para o bem comum de todos”. No entanto e infelizmente, em nosso país, essa correlação não corresponde à etimologia da palavra grega.
É de entendimento comum que a conjunção, desigualdade social e estabilidade econômica, são dissonantes, não alicerçam um país, não há estabilidade onde há desigualdade. Este é o ponto primordial, minha visão critica, para um suposto debate em nosso seio. É notório, desde a proclamação da republica, que nosso país, através dos tempos, avança e regride economicamente, em um circulo vicioso lesivo às nossas pretensões de país estável socialmente e apto ao primeiro mundo. Dada a essa disparidade social e considerando as nossas ações iluministas, igualitárias e libertárias no passado, torna-se incompreensível o distanciamento maçônico, por imposição, ao debate político. Nos países socialmente prósperos, essa determinação, obviamente, tornou-se inócua, não no nosso, pois, ainda carecemos de melhorias.
Passando as vistas pelo quadro social brasileiro é triste constatar que atualmente, (dados do IBGE de 2018), há um contingente de cerca de 30% da população, (55 milhões de pessoas), vivendo na linha de pobreza. O Banco Mundial considera pobre, aquele que vive com menos de $5,50 dólares por dia, cerca de R$600,00 ao mês. Sinceramente, não vejo muita diferença desse valor para os que recebem o salário mínimo de R$998,00 ao mês, e que representam cerca de 40% da totalidade de trabalhadores empregados no país com carteira assinada, assim como os 37 milhões de brasileiros na informalidade, sem salários fixos, (dados do PNAD 2018). Mas não vou avolumar os números do IBGE, outro dado assustador, dentro deste contingente de 55 milhões de pessoas, 7,5% ou 15 milhões, vivem na linha de extrema pobreza, com menos de R$200,00 ao mês. Temos, portanto, ¼ da população brasileira perseverando-se em uma subsistência miserável, privada, portanto, de boa alimentação ou mesmo passando fome, algo inimaginável para um país que detém o título de 8ª economia do mundo, em passado recente foi a 6ª. Não há nenhuma proteção social, seja da saúde, trabalhista, educacional ou previdenciária, para essas pessoas, são totalmente dependentes da assistência governamental do programa “Bolsa Família”, recebem entre parcos R$85,00 e R$195,00, ínfimo às necessidades e nem todos têm garantia a essa assistência.
Ainda de acordo com os dados do IBGE, cerca de 75% desse total de desvalidos, são de negros, ou 41 milhões. Outros 20%, 11 milhões, são mulatos ou de outras etnias. O analfabetismo entre eles é de 15%, (mais que o dobro da média nacional de 7%, que já é um absurdo), ou 8 milhões de analfabetos, a expectativa de vida é de 66 anos, (a média nacional é de 73 anos), e têm 70% de chances de morrerem assassinados. Há de se notar que, desde meados da década de 50 do século XVI, quando os negros passaram a chegar cativos aos portos do Brasil colônia, até sua abolição em 1888, no Brasil Império, (por essa data tardia, carregamos a mácula de sermos o ultimo país americano a acabar com o trabalho escravo), e mesmo após a Lei Imperial nº 3.353, Lei Áurea, (que teve influência maçônica, através de IIr.’., que difundiam e obravam, à época, o pensamento libertário, dentre os quais, Joaquim Nabuco), o negro, seus descendentes e os de ascendência indígena, entre outros, ainda permanecem ao largo da sociedade, continuam aquém das conquistas sociais alcançadas por outros brasileiros.
O preconceito da sociedade para com eles, desde a colônia até os dias de hoje, incutiu o racismo e sua subjugação. A exclusão social foi, portanto, às vistas da população, uma consequência natural. O governo àquela ocasião, não elaborou uma ação de inserção dos negros libertos no novo mercado trabalhista remunerado, preferiu investir na imigração estrangeira, o que principiou o funesto quadro social visto hoje. O resultado dessa situação é evidenciado através das diversas revoltas de antes e depois da Lei Áurea, (cabanagem, balaiada, canudos, chibata e outras), informadas à população como sublevação de escravos cativos, fugidos, ou alforriados, indígenas ou da plebe, sempre contra a sociedade, a monarquia ou a república, a depender do dono do poder. Apesar de menos propensa, nos dias de hoje, não podemos afirmar ser impossível. Revoltas podem surgir subitamente, pois, a disfunção social ronda a todos, há muito.
Diante dessa realidade miserável e das obrigações constitucionais, havemos de atentar à discursão dessa questão, esse pode ser nosso foco principal, entre os demais, já que os governantes pouco se preocupam com o bem comum dessa pobre gente. Não vamos nos juntar ao debate vil, sem proposição e na polarização radical ideológica do fulano versus ciclano, não se trata disto, mas sim de acendermos uma vela e levar a luz de nossa tríade à escuridão social em nosso país, visto que, a inviolabilidade ao direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, como nas Constituições, estão aviltadas. Além do comprometimento filantrópico e a defesa dos direitos humanos, necessitamos debater, para fomentar com nossas ideias, as mudanças sociais necessárias. O debate antes de ser uma imposição constitucional, passa a ser obrigação moral.
Abril de 2020.
A política é inerente à condição humana, por consequência, independem os impedimentos, logo, acredito que poderíamos sim, de maneira convencional e sem valores ideológicos, debatê-la em nosso meio, não podemos nos abster.
O Capitulo II, Seção I, Art. 22, § 3º, de nossa Constituição, estabelece o seguinte: “a Grande Loja adota, em sua ação filosófica, ritualística e social, os Landmarks de Machey, (sic), (Albert Mackey), e a Constituição de Anderson, (James Anderson)”. Entre os 25 Landmarks, não há menção contrária ao debate político em nosso meio. Todavia, na Constituição de Anderson, na 6ª Obrigação: (Conduta - Item 2º, Dever a Ser Observado), especifica: “... Não se devem levar a essas reuniões ódios privados, nem motivo algum de discórdia e, sobretudo, deve-se evitar discussões sobre religião e política...”.
Há de se considerar uma interação, entre nossa Constituição, (Título III, Capitulo I, Art. 20º, § 4º, alínea “C”: “promover a filantropia e a defesa dos direitos humanos”), com as responsabilidades civis estabelecidas na Constituição Federal Brasileira, (Título II, Capitulo I, Art. 5º, (Cláusula Pétrea): “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...”).
Constatada a correlação humanista, em ambas as Constituições, posso engendrar em minha assertiva. E ela deriva da própria palavra, “política”, originária de duas palavras gregas, “polis” e “tikós”, (politikós) a primeira tem significado para “cidade/governo”, a segunda um termo para, “bem comum”, fazendo sentido completo para: “governo da cidade para o bem comum de todos”. No entanto e infelizmente, em nosso país, essa correlação não corresponde à etimologia da palavra grega.
É de entendimento comum que a conjunção, desigualdade social e estabilidade econômica, são dissonantes, não alicerçam um país, não há estabilidade onde há desigualdade. Este é o ponto primordial, minha visão critica, para um suposto debate em nosso seio. É notório, desde a proclamação da republica, que nosso país, através dos tempos, avança e regride economicamente, em um circulo vicioso lesivo às nossas pretensões de país estável socialmente e apto ao primeiro mundo. Dada a essa disparidade social e considerando as nossas ações iluministas, igualitárias e libertárias no passado, torna-se incompreensível o distanciamento maçônico, por imposição, ao debate político. Nos países socialmente prósperos, essa determinação, obviamente, tornou-se inócua, não no nosso, pois, ainda carecemos de melhorias.
Passando as vistas pelo quadro social brasileiro é triste constatar que atualmente, (dados do IBGE de 2018), há um contingente de cerca de 30% da população, (55 milhões de pessoas), vivendo na linha de pobreza. O Banco Mundial considera pobre, aquele que vive com menos de $5,50 dólares por dia, cerca de R$600,00 ao mês. Sinceramente, não vejo muita diferença desse valor para os que recebem o salário mínimo de R$998,00 ao mês, e que representam cerca de 40% da totalidade de trabalhadores empregados no país com carteira assinada, assim como os 37 milhões de brasileiros na informalidade, sem salários fixos, (dados do PNAD 2018). Mas não vou avolumar os números do IBGE, outro dado assustador, dentro deste contingente de 55 milhões de pessoas, 7,5% ou 15 milhões, vivem na linha de extrema pobreza, com menos de R$200,00 ao mês. Temos, portanto, ¼ da população brasileira perseverando-se em uma subsistência miserável, privada, portanto, de boa alimentação ou mesmo passando fome, algo inimaginável para um país que detém o título de 8ª economia do mundo, em passado recente foi a 6ª. Não há nenhuma proteção social, seja da saúde, trabalhista, educacional ou previdenciária, para essas pessoas, são totalmente dependentes da assistência governamental do programa “Bolsa Família”, recebem entre parcos R$85,00 e R$195,00, ínfimo às necessidades e nem todos têm garantia a essa assistência.
Ainda de acordo com os dados do IBGE, cerca de 75% desse total de desvalidos, são de negros, ou 41 milhões. Outros 20%, 11 milhões, são mulatos ou de outras etnias. O analfabetismo entre eles é de 15%, (mais que o dobro da média nacional de 7%, que já é um absurdo), ou 8 milhões de analfabetos, a expectativa de vida é de 66 anos, (a média nacional é de 73 anos), e têm 70% de chances de morrerem assassinados. Há de se notar que, desde meados da década de 50 do século XVI, quando os negros passaram a chegar cativos aos portos do Brasil colônia, até sua abolição em 1888, no Brasil Império, (por essa data tardia, carregamos a mácula de sermos o ultimo país americano a acabar com o trabalho escravo), e mesmo após a Lei Imperial nº 3.353, Lei Áurea, (que teve influência maçônica, através de IIr.’., que difundiam e obravam, à época, o pensamento libertário, dentre os quais, Joaquim Nabuco), o negro, seus descendentes e os de ascendência indígena, entre outros, ainda permanecem ao largo da sociedade, continuam aquém das conquistas sociais alcançadas por outros brasileiros.
O preconceito da sociedade para com eles, desde a colônia até os dias de hoje, incutiu o racismo e sua subjugação. A exclusão social foi, portanto, às vistas da população, uma consequência natural. O governo àquela ocasião, não elaborou uma ação de inserção dos negros libertos no novo mercado trabalhista remunerado, preferiu investir na imigração estrangeira, o que principiou o funesto quadro social visto hoje. O resultado dessa situação é evidenciado através das diversas revoltas de antes e depois da Lei Áurea, (cabanagem, balaiada, canudos, chibata e outras), informadas à população como sublevação de escravos cativos, fugidos, ou alforriados, indígenas ou da plebe, sempre contra a sociedade, a monarquia ou a república, a depender do dono do poder. Apesar de menos propensa, nos dias de hoje, não podemos afirmar ser impossível. Revoltas podem surgir subitamente, pois, a disfunção social ronda a todos, há muito.
Diante dessa realidade miserável e das obrigações constitucionais, havemos de atentar à discursão dessa questão, esse pode ser nosso foco principal, entre os demais, já que os governantes pouco se preocupam com o bem comum dessa pobre gente. Não vamos nos juntar ao debate vil, sem proposição e na polarização radical ideológica do fulano versus ciclano, não se trata disto, mas sim de acendermos uma vela e levar a luz de nossa tríade à escuridão social em nosso país, visto que, a inviolabilidade ao direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, como nas Constituições, estão aviltadas. Além do comprometimento filantrópico e a defesa dos direitos humanos, necessitamos debater, para fomentar com nossas ideias, as mudanças sociais necessárias. O debate antes de ser uma imposição constitucional, passa a ser obrigação moral.
Abril de 2020.