CAMPECHE

Vou me apresentar, eu sou o Campeche. Vivo no sul de uma ilha muito formosa, faceira, terra de benzedeiras, bruxas e boitatás. Pelos índios carijós era chamada de Meiembipe que quer dizer Montanha ao longo do Mar. Francisco Dias Velho quando aqui chegou a nomeou de ilha de Santa Catarina, depois DESTERRO, meu nome preferido e por fim a batizaram de Florianópolis. Sabe este nome não me soa bem, sabem por quê? Vou explicar: um dia o Brasil teve um homem no poder chamado Floriano Peixoto, esta pessoa ficou na história como um herói, mas para nossa terra ele fez muito mal. Prendeu muitas pessoas num forte da Ilha do Anhatomirim causando a morte destes prisioneiros. Voltando a minha apresentação, já me chamaram de Vila do Pontal, mas não ligo para estas mudanças. Num tempo passado havia muitos pescadores por aqui, plantações. Tenho meu amigo ao lado, meu vizinho Riozinho, é gente boa no verão dá tanta gente jovem que já estou enciumado dele, mas deixa pra lá, não é sadio a gente sentir ciúme dos outros, principalmente quando somos amigos irmãos. Chegando a ele, para ir a Lagoa é uma passada só. Um pouco mais ao sul tem o Morro das Pedras como parceiro e mais adiante minha eterna amiga Lagoa do Peri, que maravilha termos amigos (as) para confabular, trocar experiências, dialogar. A areia da minha praia, Campeche, é um pouco fofa, cansa um pouco as pernas de quem não está acostumado, mas nada que impeça de uma boa caminhada. Sabe é mar aberto e suas águas são geladas, ideal para um dia quente de verão banhar-se e refrescar-se. A ilha ah! Que bela ilha do Campeche, está no meio do mar a esperar uma visitinha, passar alguns momentos desfrutando desta beleza imensa. Tem costões e morros recobertos pela Mata Atlântica, prainha com areia bem fininha não machuca os pés e bem clarinha ideal para crianças brincar e mergulhar. A água tem uma cor que varia entre turquesa e verde e é mansinha, diferente da praia que é mar bravio. Tu vás encontrar sítios arqueológicos com inscrições rupestres e mais coisas que nem lembro mais, mas que tem, tem, é só pegar um barco na praia e ir visitar, te esperamos lá. Em dia de vento suli o mar entra em convulsão, sinal de que devemos respeitar a natureza, pois com este gesto ele está afirmando, quem manda aqui é eu, entrem em meu ser, mas respeitem este templo sagrado que a natureza vos oferta. Todos são bem vindos em minha casa, porém não abusem de minha bondade. Mantenham a água e a areia asseada livre de lixos que venham prejudicar a mim a aos seus. Deixa contar uma coisa importante, aqui no Campeche tem um campo de pouso, que nos anos vinte um aviador e escritor francês, aquele que escreveu o famoso livro O pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry utilizava para reabastecer seu avião do Correio Aéreo Francês rumo a Buenos Aires, capital da Argentina. Dizem que ele fez muitas amizades por estas bandas e muitos pescadores contavam história deste francês. Viu como sou importante para esta cidade, lamento de muitas pessoas não conhecerem esta história, mas fazer o que. A escola não ensina, o livro não publica, como vão ficar sabendo? Somente pela boca do povo, mas daí, bem já é outra história. Hoje estou muito mudado, minha cara já não é a mesma. Meu povo antigo a maioria já foram visitar São Pedro, outros se mudaram para locais mais distantes, temos muitos forasteiros, é verdade, penso ser a maioria. É bom lembrar que não são pessoas más não, são gente boa que estão contribuindo para uma nova realidade, porém está acontecendo um crescimento desenfreado o qual não estou gostando. Acabou meu sossego e minha paciência está por um fio. Só me resta rezar a Nossa Senhora dos Navegantes e à Mãe Iemanjá para que a paz volte a reinar, neste lindo lugar. Até outro dia.

Valmir Vilmar de Sousa 26/04/17

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 22/07/2021
Código do texto: T7304886
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