Aprendendo com o luto de uma viúva
A Bíblia narra uma história interessante no segundo livro de Reis , capítulo quatro. Nela aparece uma viúva , que além de enfrentar o sofrimento ,a dor do luto ,ainda enfrentava a ameaça de perder a única esperança, o único alento que lhe restava nessa vida: seus filhos. O esposo morreu, porém deixou uma dívida, e os credores queriam levar os filhos escravos, como forma de quitação da dívida, era um costume da época.
No contexto aparece a figura do profeta Eliseu , que ao tomar conhecimento da situação ,se sensibilizou e através do dom que lhe fora confiado por Deus : a operação de milagres, direcionou à viúva quais passos tomar para a solução do problema e a realização do milagre. A viúva prontamente o ouviu ,e fez conforme a sua palavra e o milagre aconteceu. Ela tinha apenas um pouquinho de azeite na botija , porém este azeite se multiplicou tanto, que serviu não apenas para sua subsistência, como também
sobrou , garantindo-lhe a possibilidade de venda e quitação da dívida.
Aprendo muito com essa história e principalmente com a dura experiência pessoal de lidar com o luto, com a perda da pessoa que amava com todas as minhas forças, sem dúvidas ,a pior dor ,a mais desafiadora situação que um ser humano pode vivenciar. Palavras jamais poderão descrever um por cento da dimensão das sensações dolorosas de um momento de separação pela morte. O mais intrigante, é que além da situação dolorosa da perda ,ainda temos que lidar com situações constrangedoras que querem nos tirar o pouquinho que nos restou: de fé ,de esperança, de alegria, de entusiasmo. São pessoas , acredito que com boas intenções, se aproximam com a tentativa de nos ajudar, e começam a fazer cobranças. É a famosa " espiritualização" das mazelas humanas ,como se o cristão fosse super herói e não estivesse vulnerável às mesmas fragilidades como qualquer outra pessoa. São cobranças de sorrisos, cobranças para que venhamos agir com naturalidade ,como se nada estivesse acontecendo, de continuar desempenhando todas as funções de antes com a mesma alegria e entusiasmo. São tentativas ,que apesar da boa intenção, tem efeito contrário. Nessas horas a gente ,como aquela viúva ,tem muito pouco, ou quase nada a oferecer. E essas cobranças só aumentam o sofrimento. É como se o nosso problema intenso do momento estivesse sendo subestimado, é como se houvesse uma banalização da nossa dor . É como se o outro não fosse capaz de ter noção da proporção do dilema existencial que estamos enfrentando.
Mas não falta os Eliseus de Deus nesses momentos . Eles não te julgam , não cobram pelo pouco que você tem a oferecer ,eles aceitam e entendem o seu momento e com simples palavras ou silêncios ,olhares acolhedores , atitudes de empatia ,conseguem fazer acontecer o milagre: o pouquinho que resta começa a multiplicar.
Gostaria muito de nesses dias ,em que tantas famílias sofrem, inclusive a minha, pudesse, como o profeta Eliseu, ser o instrumento de Deus que proporcionasse um pouquinho do aumento de alento ,de conforto , através de palavras ,de atitudes a esses corações dilacerados pela dor, gostaria muito que meus textos se transformassem em abraço , acolhimento e um bem forte: " Eu entendo sua dor".
Os cobradores não levarão nossos filhos, ou seja , não nos será tirado o pouquinho que restou ,o milagre vai chegar e esse pouquinho de esperança ,de fé ,de alegria vai ser suficiente para vivermos os dias que nos restam aqui ,e ainda venderemos, ou melhor , dividiremos com muitos ,nossa superação , nossas lições em meio à guerra.