Santa Teresina
A vida se repete e se repete – o bem e o mal.
Certa vez, há muito tempo, descobrindo as Artes, conheci o filme “O terceiro homem” e, menininho, meio bobinho fiquei chocado “com a discussão proposta a respeito de auferir lucros destruindo vidas inocentes” (conforme definido pelo crítico Alexandre Luiz em CineAlerta); bom, diante dos fatos históricos – desde o início da peregrinação do homem sobre a terra – que aos poucos fui descobrindo pela vida afora e pela vivência no dia a dia que nos mostra isso com tanta clareza, nada mais choca quando esse é o tema, quando há possibilidade de lucro o lucro é o que importa e a isso nada transcende.
Por essa linha de pensar – a exploração do homem pelo homem – por vezes imagino como seria uma missa (católica) no tempo da escravidão com a igreja lotada, os senhores bem vestidos, bem alimentados, confortavelmente sentados e os escravos descalços, seminus, famintos em pé. Todos adorando (será mesmo?) imagens indiferentes, “santos” distantes que jamais se materializavam. O Vigário exaltando ideias absolutamente incompreensíveis para todos (pelo menos nessa incompreensão havia homogeneidade) e perdendo, ele, o Vigário, a chance de compreender que ali naquela igreja havia Santos de verdade, de carne e osso; estavam presentes – olhos tristes, famintos, descalços, seminus.
Sempre tive essa impressão de que em cada homem subjugado pela força, manietado pela opressão, escravizado, enfim – aí sim Deus está presente, o martírio de Jesus se repete e se repete.
Nesse Julho de 2021 vi pela televisão uma cena que me trouxe novamente, e com bastante força, estas reflexões. Uma garota (travesti) amarrada por corda, sendo arrastada, derrubada, humilhada, agredida nas ruas de Teresina – PI. Uma tristeza, seus passinhos miudinhos controlados/ impedidos pela corda, seus olhos de uma tristeza avassaladora, imensa. Não importa nada, ali estava Jesus Cristo (o Corpo Humano não é o Templo de Deus?) em seu eterno martírio sendo mais uma vez vilipendiado pelo caminho na figura de uma garota (travesti) que poderia ser renomeada Santa Teresina, um bom nome penso eu para mais um/uma mártir na edificação das santidades.